Convocação foi feita na noite desta quinta-feira, depois de a empresa divulgar perda de R$ 20 bilhões em 2021 e 2022. Aprovação do plano é fundamental para reestruturação da dívida
A data foi marcada depois de a empresa ter informado ontem o maior prejuízo da história da companhia. Em 2021 e 2022, a varejista acumulou perdas de quase R$ 20 bilhões, após a revelação de um esquema de fraudes neste ano.
Apesar do rombo em suas finanças, a divulgação dos resultados abre caminho para a negociação de um acerto com os credores. O grupo, porém, corre agora contra o tempo para acertar os detalhes finais do acordo com bancos, já que pretende conseguir a aprovação de seu plano de recuperação judicial ainda este ano.
A data da assembleia é um dia antes do início do recesso de fim de ano da Justiça.
Mesmo com tombo bilionário apresentado pela Americanas, o mercado reagiu bem ontem, e as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da companhia fecharam em alta de 6,25%. No entanto, os papéis, que foram retirados do Novo Mercado, o mais alto nível de governança da B3, ainda valem menos de R$ 1.
Fraude de R$ 25,2 bi
Em carta aos acionistas, a empresa disse que “foi vítima de uma fraude sofisticada, baseada na manipulação dolosa de seus controles internos por parte de sua antiga gestão, o que tornou o refazimento das demonstrações financeiras extremamente desafiador, complexo e extenso, requerendo trabalho minucioso e rigoroso.”
A crise na varejista começou em janeiro, após o ex-presidente Sergio Rial — que ficou apenas nove dias no cargo — ter anunciado inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões envolvendo o lançamento de gastos fictícios em propaganda e operações com fornecedores. Ontem, a companhia informou que essa fraude alcançou R$ 25,2 bilhões, número que já esperado pelo mercado.
A análise geral de credores, de acordo com fontes que acompanham as negociações, é que os dados apresentados não prejudicaram o ânimo para aprovar o plano de recuperação judicial.
Segundo Leonardo Pereira, presidente da Americanas, o que se discute agora é a redação para os termos jurídicos do acordo. Ele diz estar confiante em marcar a assembleia ainda este ano, porque a maior parte dos bancos credores já sinalizou que aprovará o plano de recuperação.
— Isso não significa que todos os credores estejam on board (embarcados), porque a gente não tem condição de pagar todos os credores, pois isso seria pagar R$ 42 bilhões (incluindo a dívida financeira bruta e as dívidas trabalhistas e com fornecedores). A gente não tem esse dinheiro, mas é uma aprovação razoável. Eu diria que a maior parte dos credores mais relevantes estão on board — disse ele ao GLOBO. — Quando se olha pela ótica de valor, dá para dizer que mais de 60% dos valores que estão na recuperação judicial já estão alinhados com esse plano que foi apresentado.
Desafios do plano
Para poder fechar o balanço, a companhia recorreu a Marcelo Nunes , ex-diretor financeiro, e Flávia Carneiro, ex-superintendente de controladoria da empresa, para ajudarem a apontar os “caminhos” da fraude. Ambos fecharam acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).
— Tem uma ampla gama de investigações acontecendo, com MPF, Polícia Federal, CVM (Comissão de Valores Mobiliários), B3 e o Comitê Independente de Investigação (da empresa). Tudo o que se refere à delação corre em segredo de Justiça. Com relação à participação ou não de ex-diretores no trabalho de refazimento dos balanços, a gente não pode comentar — afirmou Pereira.
Mas a aprovação do balanço divulgado ontem continua cercada de desafios. A auditoria BDO, que foi contratada em junho para substituir a PwC, responsável por auditar os dados financeiros maquiados, não quis expressar opinião sobre as demonstrações. Alega que “não foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para fundamentar” a opinião sobre as demonstrações contábeis.
A BDO cita uma série de questionamentos, como a investigação conduzida pelo Comitê Independente da companhia, que ainda está em curso, “de modo que documentos e informações ainda estão sob revisão”, ressaltaram os auditores.
Metas ‘arrojadas’
Para Pereira, no entanto, o fundamento da abstenção de opinião da auditoria vem do fato de a companhia estar em recuperação judicial:
— Como ainda não tem um plano aprovado, por norma, a auditoria tem que dar uma abstenção de opinião. As ressalvas para 2022 referem-se a estoques. Em todo o resto, a auditoria fez testes e entregou estimativas.
Para fazer a mensuração dos estoques em 2022, teria que medir no passado. Para isso, pega-se a última medição possível, que é 2023, e começa a voltar contabilmente, como o que foi comprado, vendido e o que foi perdido. E esse movimento é trabalhoso. E agora em dezembro vou fazer um inventário e saber o que tem em estoque — disse o executivo, lembrando que a empresa vai divulgar os resultados dos três primeiros trimestres de 2023 em 29 de dezembro.
Loja Americanas no Plaza Shopping, em Niterói, em 2006. — Foto: Letícia Pontual
Contando com a aprovação do plano de recuperação, a companhia apresentou ainda projeções para o ano de 2025. A meta é reduzir o endividamento bruto atual de R$ 37,3 bilhões para algo entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão em dois anos, meta considerada “arrojada” por duas fontes do mercado financeiro.
Loja Americanas no Plaza Shopping, em Niterói, em 2006. — Foto: Letícia Pontual
Contando com a aprovação do plano de recuperação, a companhia apresentou ainda projeções para o ano de 2025. A meta é reduzir o endividamento bruto atual de R$ 37,3 bilhões para algo entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão em dois anos, meta considerada “arrojada” por duas fontes do mercado financeiro.
Outro executivo lembrou ainda que as negociações para a aprovação do plano de recuperação judicial ainda não acabaram, e a empresa está trabalhando em ajustes entre os credores financeiros.
O plano prevê ainda aporte de R$ 12 bilhões pelos acionistas de referência da varejista — Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, que negam terem participado da fraude. Em contrapartida, os credores vão trocar o equivalente a R$ 12 bilhões em créditos a receber por ações da companhia. Antes, o teto para cada uma dessas operações era de R$ 10 bilhões. A rede tem 9.462 credores.
A empresa pretende ainda vender ativos mais importantes nos próximos anos, como a rede Hortifruti Natural da Terra e a Uni.Co, dona da Imaginarium.
Fonte: O GLOBO
O plano prevê ainda aporte de R$ 12 bilhões pelos acionistas de referência da varejista — Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, que negam terem participado da fraude. Em contrapartida, os credores vão trocar o equivalente a R$ 12 bilhões em créditos a receber por ações da companhia. Antes, o teto para cada uma dessas operações era de R$ 10 bilhões. A rede tem 9.462 credores.
A empresa pretende ainda vender ativos mais importantes nos próximos anos, como a rede Hortifruti Natural da Terra e a Uni.Co, dona da Imaginarium.
Fonte: O GLOBO
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