As variações climáticas podem influenciar a ocorrência, distribuição e prevalência de várias doenças, especialmente as infecciosas

O clima e a saúde de um país têm ligação intrínseca. As variações climáticas podem influenciar a ocorrência, distribuição e prevalência de várias doenças, especialmente as infecciosas. Muitas têm como vetores mosquitos, carrapatos e pulgas. 

A malária, transmitida por mosquitos Anopheles, pode se tornar mais prevalente em áreas onde o aumento das chuvas cria mais habitats para a reprodução do inseto. O vírus da dengue, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, também está relacionado a condições climáticas como temperaturas mais altas e padrões de chuva. Chuvas e enchentes podem contaminar fontes de água potável, levando à propagação de doenças como cólera e leptospirose.

Variações na qualidade do ar, muitas vezes influenciadas pelo clima, podem afetar doenças respiratórias. Ondas de calor podem intensificar a formação de poluentes atmosféricos que exacerbam condições como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica. Essas ondas, que estão mais frequentes devido às mudanças climáticas, podem resultar em desidratação, aumento de trombose e eventos cardiovasculares que podem ser fatais, sobretudo para idosos e outros grupos vulneráveis.

Eventos climáticos extremos, como ciclones, secas e inundações, podem deslocar grandes populações, criando condições de superlotação em abrigos temporários e, assim, aumentar o risco de surtos de doenças. 

Desastres naturais também podem ter impactos profundos na saúde mental das pessoas afetadas, levando a condições como estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. Variações climáticas podem afetar a produção agrícola, levando à insegurança alimentar e à má nutrição, o que pode tornar as pessoas mais suscetíveis a doenças. Podem ainda alterar ecossistemas, impactando a biodiversidade e o equilíbrio de doenças no ambiente.

O aumento das temperaturas, juntamente com a desflorestação, pode elevar a frequência de incêndios florestais e até transformar partes dessas áreas em savana, o que teria consequências catastróficas para a biodiversidade e os padrões climáticos. Setores dependentes de condições climáticas específicas, como o turismo e a pesca, podem ser afetados.

Em resposta a esses desafios, é essencial que o Brasil adote políticas proativas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, focando em práticas agrícolas sustentáveis, conservação de recursos hídricos, proteção de ecossistemas, infraestrutura resiliente ao clima e fomento à pesquisa científica.

Em 2015, durante a COP 21 (21ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), foi firmado o Acordo de Paris, um compromisso de 195 países para a redução da emissão de gases do efeito estufa. Ou seja, para combater a crise climática, as nações, incluindo o Brasil, assinaram o acordo, que entrou em vigor em novembro de 2016. 

A principal meta é manter o aumento da temperatura do planeta bem abaixo dos 2°C, para garantir um futuro com baixa emissão de carbono, adaptável, próspero e justo. A emissão de certos gases tem provocado o agravamento do efeito estufa e do aquecimento global. Ela ocorre em razão da intensa queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão mineral), por atividades agrícolas e pelo desmatamento de florestas tropicais.

Nossas principais metas são: aumentar o uso de fontes alternativas de energia e a participação de bioenergias sustentáveis na matriz energética brasileira para 18% até 2030; utilizar tecnologias limpas nas indústrias; melhorar a infraestrutura de transportes; e restaurar e reflorestar até 12 milhões de hectares.

À medida que as transformações climáticas avançam em ritmo acelerado, a saúde dos brasileiros torna-se cada vez mais vulnerável. Não se trata apenas de uma questão ambiental. Se não houver ações concretas e imediatas, seremos testemunhas não apenas da deterioração do planeta, mas da saúde e do bem-estar de gerações presentes e futuras.


Fonte: O GLOBO