Força registrou 48 ocorrências de extravio até outubro, uma média de quase cinco por mês; maior quantidade foi levada do estado de São Paulo
A quantidade de artefatos com alto poder de destruição que desapareceu dos quartéis do Exército neste ano bateu um recorde preocupante: a Força registrou 48 ocorrências de desvio de armamentos ou munições até outubro, uma média de quase cinco por mês.
O número já é o maior dos últimos dez anos e evidencia que o furto de 21 metralhadoras no Arsenal de Guerra do Exército em Barueri, na Grande São Paulo, em outubro não foi um caso isolado. Os dados foram obtidos pelo GLOBO, por meio da Lei de Acesso à Informação.
O arsenal roubado ou furtado de quartéis em 2023 soma pelo menos 460 munições, três pistolas, 21 metralhadoras e dois fuzis. Os registros estão espalhados por sete das 12 regiões militares do país. A maior quantidade foi levada em São Paulo.
Os dados também mostram que mais de 26,4 mil munições foram furtadas de instalações militares nos últimos dez anos, sendo o material bélico mais extraviado da Força. Ente as armas, a maioria são as de grosso calibre, como fuzis, metralhadoras e espingardas, que têm uso restrito pelas forças de segurança.
Ao GLOBO, o Exército informou que todas as ocorrências são investigadas, “cabendo a abertura de inquérito policial militar para aquelas que apresentam indícios de crime e processo de apuração de transgressão disciplinar para os outros casos”. Em nota, a Força acrescentou que “os militares cuja investigação concluir que cometeram crimes ou transgressões disciplinares são punidos com rigor, na forma da lei”.
Veja dados das armas extraviadas — Foto: Editoria de arte
Entre os casos punidos está o do tenente-coronel Alexandre de Almeida, preso em 2019 após ser acusado de desviar armas do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da 1ª Região Militar, no Rio de Janeiro. O militar era o chefe da unidade que fiscaliza a importação e comercialização do arsenal, usado no estado e no Espírito Santo.
Segundo a investigação, o esquema consistia em comercializar “armas antigas”, que por isso seriam descartadas. Um dono de clube de tiro confirmou à Polícia Civil que havia recebido 110 armas do setor comandado pelo tenente-coronel. Pelo carregamento, pagou R$ 90 mil.
Em 2020, a Justiça Militar também confirmou a condenação de um ex-cabo do Exército a 11 anos e 3 meses de reclusão pelo crime de “peculato-furto” de armas. Ele foi acusado de desviar três fuzis e munições calibre 7.62 e .50 do 7° Grupo de Artilharia de Campanha, em Olinda (PE) para traficante de drogas.
A investigação do caso concluiu que, como controlador do armamento que entrava e saía do quartel, o cabo lançava no sistema um número menor de armas para poder desviá-las.
Seleção
Coordenador de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, David Marques aponta que o processo de seleção do Exército acaba por propiciar a entrada de jovens não comprometidos com a disciplina da Força, o que representa uma vulnerabilidade.
— Eles passam pelo serviço obrigatório, recebem um treinamento militar mínimo, conhecem um pouco mais das estruturas e isso pode, de certa forma, gerar um conjunto de vulnerabilidades, justamente porque eles passam a conhecer como funciona — afirmou Marques. — Depois de não se engajarem, podem levar essa informação adiante ou eles mesmo realizarem os roubos e furtos — completou.
A diretora do Instituto Igarapé Melina Risso destaca que os furtos e roubos em arsenais das Forças Armadas são uma das grandes fontes de abastecimento de armas do crime organizado:
— A falta de controle de armazéns do Exército gera essas ocorrências que abastem o arsenal do crime.
Grosso calibre
Armamentos de grosso calibre, que têm maior poder de fogo, são os alvos preferidos dos furtos e roubos de arsenais do Exército. Das 67 armas desviadas de quartéis desde 2013, 40 eram metralhadoras, fuzis e espingardas, e representam quase 60% do total.
Neste ano, 23 das 26 armas desviadas foram metralhadoras ou fuzis (21 metralhadoras e 2 fuzis). Em dez anos, o Exército só não registrou roubos ou furtos de armamentos de grosso calibre em 2020, quando apenas uma pistola foi furtada.
O caso de furto do Arsenal de Guerra em Barueri é um exemplo dessa preferência. Entre as 21 armas furtadas do local, 13 eram metralhadoras calibre .50, capazes de derrubar aviões e helicópteros, e oito, metralhadoras calibre 7,62, também com poder antiaéreo.
Com a ajuda das policiais paulistas e fluminense, a Força conseguiu recuperar, um mês após o crime, 19 das armas. Dez foram localizadas pelo Exército e Polícia Civil abandonadas perto da favela Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio. As outras nove foram achadas pela Polícia Civil em São Roque, no interior de São Paulo, após troca de tiros com dois criminosos, que fugiram.
Na manhã de ontem, 45 soldados do Exército e da Polícia Militar e oito agentes da Polícia Técnico-Científica cumpriram mandados de busca e apreensão em imóveis de dois dos seis militares suspeitos de participarem do furto, em Jandira, na região metropolitana da capital paulista.
Os mandados foram expedidos pela Justiça Militar, a pedido do Comando Militar do Sudeste, responsável pelas investigações, ao lado das polícias civis de São Paulo e do Rio. Três integrantes de facções criminosas também são alvo do inquérito.
Esse foi o maior desvio de armas da Força desde 2009, quando sete fuzis foram roubados de um batalhão em Caçapava, também no interior paulista. O armamento foi recuperado.
O GLOBO pediu dados de furto e roubos de armas e munições em instalações da Marinha e da Aeronáutica. As duas forças não forneceram as informações. A Marinha alegou que não poderia repassar os dados, “uma vez que a informação requerida está classificada com o grau de sigilo reservado”. Já a Aeronáutica informou que “os processos decorrentes de desaparecimentos de armamentos são apurados por meio de inquéritos policiais militares cujas conclusões são encaminhadas para o Ministério Público Militar”, mas não encaminhou os dados solicitados. (com informações do g1)
Fonte: O GLOBO
O arsenal roubado ou furtado de quartéis em 2023 soma pelo menos 460 munições, três pistolas, 21 metralhadoras e dois fuzis. Os registros estão espalhados por sete das 12 regiões militares do país. A maior quantidade foi levada em São Paulo.
Os dados também mostram que mais de 26,4 mil munições foram furtadas de instalações militares nos últimos dez anos, sendo o material bélico mais extraviado da Força. Ente as armas, a maioria são as de grosso calibre, como fuzis, metralhadoras e espingardas, que têm uso restrito pelas forças de segurança.
Ao GLOBO, o Exército informou que todas as ocorrências são investigadas, “cabendo a abertura de inquérito policial militar para aquelas que apresentam indícios de crime e processo de apuração de transgressão disciplinar para os outros casos”. Em nota, a Força acrescentou que “os militares cuja investigação concluir que cometeram crimes ou transgressões disciplinares são punidos com rigor, na forma da lei”.
Veja dados das armas extraviadas — Foto: Editoria de arte
Entre os casos punidos está o do tenente-coronel Alexandre de Almeida, preso em 2019 após ser acusado de desviar armas do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da 1ª Região Militar, no Rio de Janeiro. O militar era o chefe da unidade que fiscaliza a importação e comercialização do arsenal, usado no estado e no Espírito Santo.
Segundo a investigação, o esquema consistia em comercializar “armas antigas”, que por isso seriam descartadas. Um dono de clube de tiro confirmou à Polícia Civil que havia recebido 110 armas do setor comandado pelo tenente-coronel. Pelo carregamento, pagou R$ 90 mil.
Em 2020, a Justiça Militar também confirmou a condenação de um ex-cabo do Exército a 11 anos e 3 meses de reclusão pelo crime de “peculato-furto” de armas. Ele foi acusado de desviar três fuzis e munições calibre 7.62 e .50 do 7° Grupo de Artilharia de Campanha, em Olinda (PE) para traficante de drogas.
A investigação do caso concluiu que, como controlador do armamento que entrava e saía do quartel, o cabo lançava no sistema um número menor de armas para poder desviá-las.
Seleção
Coordenador de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, David Marques aponta que o processo de seleção do Exército acaba por propiciar a entrada de jovens não comprometidos com a disciplina da Força, o que representa uma vulnerabilidade.
— Eles passam pelo serviço obrigatório, recebem um treinamento militar mínimo, conhecem um pouco mais das estruturas e isso pode, de certa forma, gerar um conjunto de vulnerabilidades, justamente porque eles passam a conhecer como funciona — afirmou Marques. — Depois de não se engajarem, podem levar essa informação adiante ou eles mesmo realizarem os roubos e furtos — completou.
A diretora do Instituto Igarapé Melina Risso destaca que os furtos e roubos em arsenais das Forças Armadas são uma das grandes fontes de abastecimento de armas do crime organizado:
— A falta de controle de armazéns do Exército gera essas ocorrências que abastem o arsenal do crime.
Grosso calibre
Armamentos de grosso calibre, que têm maior poder de fogo, são os alvos preferidos dos furtos e roubos de arsenais do Exército. Das 67 armas desviadas de quartéis desde 2013, 40 eram metralhadoras, fuzis e espingardas, e representam quase 60% do total.
Neste ano, 23 das 26 armas desviadas foram metralhadoras ou fuzis (21 metralhadoras e 2 fuzis). Em dez anos, o Exército só não registrou roubos ou furtos de armamentos de grosso calibre em 2020, quando apenas uma pistola foi furtada.
O caso de furto do Arsenal de Guerra em Barueri é um exemplo dessa preferência. Entre as 21 armas furtadas do local, 13 eram metralhadoras calibre .50, capazes de derrubar aviões e helicópteros, e oito, metralhadoras calibre 7,62, também com poder antiaéreo.
Com a ajuda das policiais paulistas e fluminense, a Força conseguiu recuperar, um mês após o crime, 19 das armas. Dez foram localizadas pelo Exército e Polícia Civil abandonadas perto da favela Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio. As outras nove foram achadas pela Polícia Civil em São Roque, no interior de São Paulo, após troca de tiros com dois criminosos, que fugiram.
Na manhã de ontem, 45 soldados do Exército e da Polícia Militar e oito agentes da Polícia Técnico-Científica cumpriram mandados de busca e apreensão em imóveis de dois dos seis militares suspeitos de participarem do furto, em Jandira, na região metropolitana da capital paulista.
Os mandados foram expedidos pela Justiça Militar, a pedido do Comando Militar do Sudeste, responsável pelas investigações, ao lado das polícias civis de São Paulo e do Rio. Três integrantes de facções criminosas também são alvo do inquérito.
Esse foi o maior desvio de armas da Força desde 2009, quando sete fuzis foram roubados de um batalhão em Caçapava, também no interior paulista. O armamento foi recuperado.
O GLOBO pediu dados de furto e roubos de armas e munições em instalações da Marinha e da Aeronáutica. As duas forças não forneceram as informações. A Marinha alegou que não poderia repassar os dados, “uma vez que a informação requerida está classificada com o grau de sigilo reservado”. Já a Aeronáutica informou que “os processos decorrentes de desaparecimentos de armamentos são apurados por meio de inquéritos policiais militares cujas conclusões são encaminhadas para o Ministério Público Militar”, mas não encaminhou os dados solicitados. (com informações do g1)
Fonte: O GLOBO
0 Comentários