Professores ouvidos pelo GLOBO dão dicas de conteúdo para revisar às vésperas do exame

A reta final de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) traz sempre um dilema aos estudantes: o que, afinal, estudar faltando poucos dias para a prova? Revisitar questões dos vestibulares passados pode, sim, ser uma boa ideia. Mas aprender novos conteúdos é uma estratégia pouco eficiente, dizem professores ouvidos pelo GLOBO.

— Com a proximidade do exame, melhor que tentar estudar assuntos que você sabe pouco ou nada é reforçar os conteúdos que você já domina parcialmente, garantido o acerto de questões que cobrem tais temas no exame — afirma Ivys Urquiza, responsável pelo canal Física Total.

Segundo o professor, que trabalha há 31 anos em sala de aula, resolver as provas anteriores também é uma boa estratégia, pois ajuda o aluno a se familiarizar com o tipo de item que pode ser cobrado.

— Mas atenção: prefira sempre resolver das provas mais recentes para as mais antigas — diz Urquiza, que aconselha revisar três assuntos em física: Fenômenos Ondulatórios, Eletrodinâmica e Dinâmica de Partículas. — Dominar esses conteúdos vai garantir de quatro a seis acertos das 15 questões de física.

Discussões coletivas

Jonathan Portela, fundador e professor do Política Através da História e doutorando em História Social pela Unicamp, endossa a sugestão de resolver questões de outras edições do Enem:

— Alguns vestibulares possuem tendências em certos temas. Além disso, é importante saber a linguagem desse vestibular, o que ele costuma requerer e como os assuntos são cobrados. Se o aluno participa de algum grupo de estudo, uma dica é discutir essas questões de provas passadas de forma coletiva — afirma ele, que é professor do cursinho pré-vestibular Poliedro.

No caso das Ciências Humanas, Portela diz que é importante praticar a interpretação de texto e a leitura crítica. E mais especificamente na sociologia, dominar as teorias centrais dos três pilares da Sociologia Clássica: Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber.

— O estudante precisa saber fazer os diálogos corretos dos sociólogos com os seus tempos históricos. Durkheim dialoga com o positivismo do Auguste Comte. Marx, com a relação dos trabalhadores. E o Weber com o historicismo —diz o historiador, que também aconselha a revisão de conceitos-chaves da filosofia.

E a redação?

Ainda que seja tentador, correr atrás de temas de redação que podem cair no Enem talvez não seja a melhor opção neste momento. A professora de redação Gisele Lemos da Silva, que leciona no ensino médio noturno do Colégio São Luis, afirma que o ideal agora é fazer uma retrospectiva do que se sabe sobre determinadas áreas da sociedade, como educação, saúde e tecnologia.

—O aluno pode fazer um resumo sobre tudo o que ele sabe a respeito de alguns temas. Uma lista de repertórios, teóricos e informações sobre diferentes assuntos. No caso da educação, se assistiu a algum documentário ou filme, se leu algum pensador, como o Paulo Freire. 

É buscar referências e fazer resumos para ativar a memória. O conhecimento, para quem se preparou, já existe. Mas como a prova é um momento de tensão, é preciso pensar em estratégias para ativar a memória.

Outra ideia é ler as redações que atingiram a nota máxima do Enem, identificando como o candidato estruturou o seu pensamento.

— O Inep divulgou recentemente a cartilha do participante 2023, na qual explica quais competências avaliam a redação do Enem. No final do material, há dez redações que atingiram a nota mil como referência para os candidatos estudarem. A partir de cada redação, há uma análise da banca de correção justificando o porquê de aquela redação ter ganhado a nota mil — continua a professora.

Gisele também diz que é importante, na reta final, reservar alguns horários do dia para o lazer. No caso da redação, lembra ela, muitas atividades podem até servir como repertório sociocultural, caso das séries e letras de músicas. 

Já sobre os tópicos cobrados na prova de língua portuguesa e que merecem atenção, ela cita: funções da linguagem, figuras de linguagem (como metáfora, comparação, personificação e hipérbole), gêneros textuais (resenha e crônica, por exemplo), intertextualidade e metalinguagem.

Atenção à saúde mental

Ary Neto, diretor do Se Liga, explica que, embora os estudantes estejam preocupados em continuar absorvendo conteúdo nessa reta final, é muito importante ter cuidado com o corpo.

—O Enem é como uma partida de campeonato. Não adianta passar semanas ou meses treinando para aquele momento e, na véspera, não dormir bem ou não se alimentar bem. Vai chegar na hora da prova e o cérebro não vai funcionar no seu maior desempenho possível — diz Neto.

Ele sugere que os estudantes aproveitem os dias anteriores ao Enem para definir uma estratégia de realização da prova, nos moldes da sugestão trazida por ele:

—O primeiro dia do Enem é composto por redação, linguagens e humanas. É o dia em que a carga de leitura é enorme e as pessoas não costumam ter tempo para realizar toda a prova. Uma estratégia que funciona bem é primeiro ler a proposta de redação e os textos de apoio e anotar as ideias de argumentos e de repertórios. 

Depois disso, partir para a prova, resolvendo as questões que você sabe. Depois de passá-las para o gabarito oficial, com muito cuidado, minha dica é escrever a redação. E após finalizá-la, retomar os itens que ficaram pendentes de resposta num primeiro momento.


Fonte: O GLOBO