Além de 359 mil entre 31 e 58 anos, perfil de participantes de prova do Inep mostra que há ainda aproximadamente 9,4 mil inscritos com mais de 60 anos
Inscritos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são, majoritariamente, jovens entre 17 e 20 anos. No entanto, a prova, que é a porta de entrada para a maioria das instituições de ensino superior no país, tem visto a idade dos candidatos aumentar ao longo dos anos.
Em 2023, 9,4% dos concorrentes — cerca de 370 mil pessoas — estão acima dos 30 anos, aproximadamente 90 mil pessoas a mais que no ano passado. Mostrando que a busca por conhecimento não tem limites, nesta edição, há 9,4 mil participantes que têm mais de 60 anos.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mais de 3,9 milhões de pessoas estão inscritas para realizar a prova nos dias 5 e 12 de novembro. Dentre elas, a maioria tem entre 17 e 20 anos (58,9%), seguida pela faixa etária que vai de 21 a 30 (20,8%) e pelo grupo com 16 ou menos, que corresponde a 10,6% do total.
As pessoas entre 31 a 59 anos são 359 mil (9,4%) e os sexagenários, 9,4 mil (0,3%). Apesar de representarem os menores grupos, são uma massa que se faz cada vez mais presente no exame. Somadas as duas faixas etárias, a edição de 2023 conta com aproximadamente 370 mil inscritos, enquanto, em 2022, eram 275 mil pessoas.
Aos 51 anos, Janife dos Santos fará o Enem pela primeira vez. Foram cinco meses de estudo intensivo para recuperar o conteúdo com o qual teve contato pela última vez há 30 anos, quando terminou a escola. Diante de disciplinas que, em sua época de colégio, não eram lecionadas, como Sociologia e Filosofia, o desafio aumenta.
— Quando completei 50 anos, no ano passado, decidi que ia começar a viver, realizar o que não consegui. Quero que meus filhos tenham orgulho de mim. Não tenho como bancar um cursinho, então está sendo bem complicado, mas estou conseguindo, estudando 20 horas por dia. Quando comecei, não entendia nada, parecia que estavam falando grego. Meu foco é principalmente redação, eu gosto de escrever desde a escola, quero 'lacrar' — falou a candidata, brincando com o termo muito usado pelos jovens nas redes sociais.
Atualmente, Janife vive no município de Camboriú, em Santa Catarina, com o marido e um filho de 14 anos. A família, que antes morava em Curitiba, decidiu se mudar para o estado vizinho para ajudar a filha mais velha, de 31 anos, a finalizar a graduação. Apesar de não ter ido atrás de uma formação superior, a candidata depositou os sonhos na filha, que hoje é graduada em Direito.
— Ver minha filha na universidade foi especial, mas foi uma luta para ela se formar. Eu morava em Curitiba e ela conseguiu bolsa pelo Prouni em Santa Catarina. Quando ela estava com três anos de curso, ela engravidou e queria sair da faculdade — conta Janife. — Eu largava meu filho e meu marido no Paraná para cuidar da minha neta de segunda a sexta, para que minha filha conseguisse terminar o estudo dela. O que me faz mais feliz é saber que ela não vai passar pelo que eu passei e desistir do sonho.
A participante, que começou a trabalhar aos 10 anos como empregada doméstica, afirma que a graduação nunca deixou de ser um sonho. O curso de Nutrição, para o qual pretende prestar vestibular, sempre foi seu objetivo, mas acabou sendo deixado de lado diante do trabalho e do nascimento da filha, assim que finalizou o ensino médio.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mais de 3,9 milhões de pessoas estão inscritas para realizar a prova nos dias 5 e 12 de novembro. Dentre elas, a maioria tem entre 17 e 20 anos (58,9%), seguida pela faixa etária que vai de 21 a 30 (20,8%) e pelo grupo com 16 ou menos, que corresponde a 10,6% do total.
As pessoas entre 31 a 59 anos são 359 mil (9,4%) e os sexagenários, 9,4 mil (0,3%). Apesar de representarem os menores grupos, são uma massa que se faz cada vez mais presente no exame. Somadas as duas faixas etárias, a edição de 2023 conta com aproximadamente 370 mil inscritos, enquanto, em 2022, eram 275 mil pessoas.
Aos 51 anos, Janife dos Santos fará o Enem pela primeira vez. Foram cinco meses de estudo intensivo para recuperar o conteúdo com o qual teve contato pela última vez há 30 anos, quando terminou a escola. Diante de disciplinas que, em sua época de colégio, não eram lecionadas, como Sociologia e Filosofia, o desafio aumenta.
— Quando completei 50 anos, no ano passado, decidi que ia começar a viver, realizar o que não consegui. Quero que meus filhos tenham orgulho de mim. Não tenho como bancar um cursinho, então está sendo bem complicado, mas estou conseguindo, estudando 20 horas por dia. Quando comecei, não entendia nada, parecia que estavam falando grego. Meu foco é principalmente redação, eu gosto de escrever desde a escola, quero 'lacrar' — falou a candidata, brincando com o termo muito usado pelos jovens nas redes sociais.
Atualmente, Janife vive no município de Camboriú, em Santa Catarina, com o marido e um filho de 14 anos. A família, que antes morava em Curitiba, decidiu se mudar para o estado vizinho para ajudar a filha mais velha, de 31 anos, a finalizar a graduação. Apesar de não ter ido atrás de uma formação superior, a candidata depositou os sonhos na filha, que hoje é graduada em Direito.
— Ver minha filha na universidade foi especial, mas foi uma luta para ela se formar. Eu morava em Curitiba e ela conseguiu bolsa pelo Prouni em Santa Catarina. Quando ela estava com três anos de curso, ela engravidou e queria sair da faculdade — conta Janife. — Eu largava meu filho e meu marido no Paraná para cuidar da minha neta de segunda a sexta, para que minha filha conseguisse terminar o estudo dela. O que me faz mais feliz é saber que ela não vai passar pelo que eu passei e desistir do sonho.
A participante, que começou a trabalhar aos 10 anos como empregada doméstica, afirma que a graduação nunca deixou de ser um sonho. O curso de Nutrição, para o qual pretende prestar vestibular, sempre foi seu objetivo, mas acabou sendo deixado de lado diante do trabalho e do nascimento da filha, assim que finalizou o ensino médio.
— Eu sempre quis estar na universidade, queria dar esse orgulho pra minha mãe. Hoje, não fico preocupada com idade, a gente tem que correr atrás dos nossos sonhos, nos permitir. Estou me sentindo uma menina de 15 anos, o tempo é a gente que faz. Não dá para deixar os medos tomarem decisões por nós, a gente vai com medo, mas vai — finalizou.
Já a carioca Lilian Cristina, de 50 anos, fará a prova pela segunda vez, após muitos anos. Ela realizou seu primeiro e único vestibular quando o filho, hoje com 32 anos, ainda era criança e, apesar de ter sido aprovada para o curso de Ciências Políticas, em uma universidade em Minas Gerais, acabou deixando a graduação de lado para cuidar da família.
— Eu tinha escolher entre trabalhar e sustentar a casa, então escolhi a minha família. Passei um tempo desligada disso para não me frustrar, mas, no ano passado, decidi que faria a prova de novo por uma mudança de vida — revela Lilian. — Na época que fiz vestibular, quis fazer para Direito. Desta vez, ainda estava com o mesmo curso na cabeça, mas, hoje, sou técnica de enfermagem e, como já sou da área da saúde, resolvi fazer para medicina.
Aluna de um pré-vestibular comunitário na Ilha do Governador, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, Lilian também se vê diante do mesmo desafio de Janife: a dificuldade de se atualizar no modelo e conteúdos da prova. Apesar da dificuldade, ela segue firme nas aulas do cursinho, onde convive apenas com jovens.
— Algumas pessoas têm muito preconceito. Com professores nunca aconteceu, mas já escutei alunos dizendo 'o que essa velha está fazendo aqui?' — contou. — Apesar disso, da mesma forma que consegui vencer os desafios na minha vida, que só Deus sabe o que eu passei até aqui, vou superar os desafios no meu pré-vestibular e na universidade também.
Fonte: O GLOBO
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