No ano, valorização da moeda digital já supera 150%. Aposta em recuo nas taxas americanas leva investidores a se voltar para ativos mais arriscados

O Bitcoin chegou a US$ 42.144 nesta segunda-feira em Londres, um aumento de 8,2% em relação à cotação de fechamento anterior. Com isso, a moeda digital atingiu o maior patamar em 20 meses, com a especulação frenética sobre as criptomoedas. No ano, a valorização do Bitcoin já supera 150%.

A última vez em que a criptomoeda atingiu esses níveis foi em abril de 2022, antes do colapso da stablecoin TerraUSD. Se o ritmo de alta nos últimos meses for mantido, a moeda digital deve ter o maior ganho anual desde 2020.

Os tokens menos populares, como o Ether e o favorito dos memes, o Dogecoin, também subiram. O Bitcoin Cash deu um salto de 11%, e um indicador com as 100 maiores criptomoedas aumentou mais de 5% hoje. O amplo avanço das divisas virtuais ocorreu mesmo com a queda nos mercados de ações na China e em Hong Kong. As Bolsas americanas ainda não abriram.

Os investidores estão cada vez mais convencidos de que o Federal Reserve não quer mais aumentar as taxas de juros à medida que a inflação esfria, voltando o foco para a provável extensão das reduções nos custos de empréstimos de referência no próximo ano. O cenário alterado alimentou uma recuperação nos mercados globais e reacendeu o interesse especulativo em ativos digitais.

Sam Bankman-Fried (à esquerda), que estava à frente da FTX, foi preso. Changpeng Zhao, CEO da Binance, recebeu multa bilionária — Foto: Bloomberg

Prisões e multas

"O Bitcoin continua a ser apoiado pelo otimismo em torno de cortes nas taxas do Fed em 2024", escreveu Tony Sycamore, analista de mercado da IG Australia Pty, em nota.

O setor de criptomoedas também está aguardando o resultado dos pedidos de empresas como a BlackRock para iniciar os primeiros ETFs (fundo de investimento negociado em Bolsa) de Bitcoin à vista dos Estados Unidos. A Bloomberg Intelligence espera que um lote desses produtos obtenha a aprovação da SEC, o órgão regulador do mercado de capitais americano, até janeiro.

O renascimento do interesse pelo Bitcoin ocorre após o crash das criptomoedas de 2022, que levou Sam Bankman-Fried a ser preso por fraude na corretora FTX e resultou em uma multa bilionária aplicada à Binance, a principal bolsa de criptomoedas do mundo, e a seu fundador, Changpeng Zhao.

Changpeng foi acusado de usar a empresa para lavar dinheiro e de violar sanções dos EUA, incluindo a permissão de transações com o Hamas e outros grupos terroristas. Um acordo com a SEC, que incluir o pagamento de uma multa de R$ 21 bilhões, encerrou o processo movido pelo órgão regulador.

Os otimistas argumentam que o esforço para coibir práticas duvidosas e a liberação dos ETFs sinalizam um amadurecimento do setor de criptomoedas e o potencial para uma base de investidores mais ampla.

Recompensa por mineração de bitcoins será reduzida à metade a partir do ano que vem, o que deve impulsionar as cotações — Foto: Erhan Demirtas / Bloomberg/

As recentes ações de fiscalização " fez os investidores retomaram a confiança", disse Su Yen Chia, cofundadora da consultoria Asia Crypto Alliance. O Bitcoin "está seguindo o impulso das finanças tradicionais com o enfraquecimento das expectativas de aumento das taxas do Fed", acrescentou.

Alta maior que a do ouro

O salto do Bitcoin em 2023 superou o de ativos como ações globais e ouro. E a perspectiva é que o interesse na moeda como investimento continue no ano que vem, com tendência de novas altas.

Uma das razões para isso é que, no ano que vem, o número de tokens que os mineradores de Bitcoin recebem como recompensa por seu trabalho será reduzido à metade. Desde que a moeda virtual foi criada, no fim de 2008, as pessoas que a mineram, ou seja, que validam e registram cada transação com as criptomoedas em blockchain, recebem um determinado volume dessas divisas.

Essa redução da recompensa ocorre a cada quatro anos e faz parte do processo de limitar o fornecimento de Bitcoin a 21 milhões de tokens. A moeda atingiu recordes após cada uma das três últimas reduções à metade.

- Poderíamos ver o Bitcoin chegar a US$ 50.000 antes de qualquer correção importante - disse Cici Lu McCalman, fundadora da consultoria de blockchain Venn Link Partners.

Apesar da alta nos últimos dias, o Bitcoin e o mercado de criptomoedas ainda estão abaixo dos máximos históricos alcançados durante a corrida pelas moedas digitais que aconteceu na pandemia. O token atingiu um pico de quase US$ 69.000 em novembro de 2021.


Fonte: O GLOBO