Boletins de ocorrência registrados até outubro indicam que furtos subiram 7,8% em relação ao ano passado, com aumento em bairros periféricos e também áreas centrais da cidade

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo registrou 409.385 boletins de ocorrência referentes a crimes praticados na capital paulista de janeiro a outubro deste ano. Na comparação com o mesmo período de 2022, houve queda nos números de homicídios (-13,5%), latrocínios (-36%), roubo de veículos (6%) e roubo a bancos (3%). 

O número de furtos, no entanto — índice que impacta diretamente na sensação de insegurança do cidadão — aumentou 7,8% na cidade. No começo do mês, a pré-candidata a prefeita Tabata Amaral (PSB) foi vítima de uma tentativa de furto na região central de São Paulo.

Levantamento do GLOBO com base nos boletins de ocorrência registrados na cidade indica que esse tipo de crime teve alta em diversas regiões, tanto na periferia como em bairros ricos mais centrais. A maior variação foi na Cidade Dutra, na Zona Sul, com 96,7% de aumento. 

Mas dois dos bairros com melhor IDH da cidade aparecem na sequência desse ranking: Itaim Bibi (50,6%) e Pinheiros (48,1%). A Vila Maria, na Zona Norte, registrou aumento de 43,1%, enquanto o Socorro, na Sul, teve alta de 37,1%.

Na outra ponta do ranking dos furtos, o número de ocorrências caiu principalmente em bairros pobres da Zona Leste. As maiores quedas foram em dois distritos policiais (DPs) de Itaquera, com variação de 25,8% em um e 16% no outro. Também na ZL, houve redução no Jardim dos Ipês (13,9%) e Vila Matilde (12,7%). Na Zona Norte, o Parque Novo Mundo teve 12,4% de queda.

Ao fazer um balanço do primeiro ano de sua gestão, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) reconheceu que a segurança pública é uma área que precisa de melhorias:

— Eu estou satisfeito com a segurança pública? Claro que não. Não posso estar. Não quero ter o cidadão sendo abordado por motocicleta todo dia, sendo assaltado. Eu diria que temos mais para fazer na segurança pública.

Infográfico detalha dados de boletins de ocorrência em São Paulo — Foto: Editoria de Arte

Furtos recuam nos Jardins

Os dados indicam que houve queda de 12,3% no número de furtos registrados nos Jardins, bairro de classe alta que fica entre Pinheiros e Itaim (duas das maiores altas). A região abriga a Avenida Paulista, que teve o policiamento reforçado pela gestão do secretário Guilherme Derrite (Segurança Pública), mas que ainda assim é um dos endereços onde mais se furtam e roubam em toda a cidade — especialmente celulares.

Foram 4.914 boletins de ocorrência registrados no 78° Distrito Policial (Jardins) por conta de smartphones tomados de seus donos entre janeiro e outubro. Só as delegacias dos Campos Elíseos (6.985) e da Sé (6.605), ambas no Centro, tiveram mais casos.

A estudante Lorena Severino, de 22 anos, foi uma das vítimas de criminosos que atuam na Paulista. A jovem teve o celular furtado no local por um homem que passou por ela de bicicleta, no mês passado:

— Eu saí correndo atrás dele, quase fui atropelada. As pessoas gritaram 'pega ladrão', mas não deu tempo de fazer nada — relatou.

Para o especialista em segurança pública Guaracy Mingardi, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), não se pode atribuir quedas nos indicadores criminais diretamente à gestão do governador Tarcísio de Freitas, pois as políticas públicas nessa área demoram mais tempo para apresentar resultados.

Mingardi diz acreditar que a redução no número de latrocínios no ano decorre da diminuição nos registros de roubos, o que por sua vez está ligada ao aumento nas ocorrências de furtos:

— Quando se dificultou o roubo a bancos, com alarmes e portas giratórias, começaram a aumentar roubos a transportadoras, explosões de caixas eletrônicos. O ladrão não deixou de ser ladrão. Agora, o criminoso que furta um celular caro ganha quase a metade do que dariam a ele por um carro roubado, talvez até mais. A grande questão hoje é evitar esses furtos de celular — avalia.

Perigo noturno

Os dados compilados até outubro indicam que o perfil dos crimes na maior metrópole do país se manteve inalterado em relação ao ano anterior: as sextas-feiras seguem sendo o dia com maior número de registros, e as noites são o período mais perigoso do dia.

O volume de ocorrências começa a subir a partir das 17h da tarde e atinge o ápice entre 20h e 21h. Esse padrão vale não só para o número total de crimes registrados, mas também para os furtos e os roubos, as ocorrências mais comuns na cidade.

Para os roubos, há também um pico no fim da madrugada, entre 5h e 6h. Guaracy Mingardi avalia que o maior volume de crimes nesse período está relacionado aos registros de roubos a residências e também a assaltos a transeuntes que saem cedo de casa para ir para o trabalho.

Em números absolutos, as delegacias que mais registraram roubos no ano são as dos Campos Elíseos (5.464), Capão Redondo (4.116) e Sé (3.741). O maior aumento em relação aos dez primeiros meses de 2022 se verificou no Portal do Morumbi, na Zona Oeste, com alta de 41,1%.

Em nota, a SSP destacou a queda nos números de roubos e homicídios na cidade e disse que equipou a Polícia Militar com novas viaturas, motos e um novo helicóptero Águia. Sobre as ocorrências de furtos, a pasta informou que, “além do policiamento ostensivo, a Polícia Civil tem buscado elementos na investigação para que o crime de receptação seja classificado como organização criminosa, já que, via de regra, há a participação de várias pessoas neste tipo de delito”.

“Desta forma, a pena é aumentada, evitando, assim, que o criminoso seja solto na audiência de custódia e volte a praticar o delito. (...) A pasta mantém diálogo aberto com a Justiça, em busca de outras ações e novas frentes para combater os reincidentes”, completou.


Fonte: O GLOBO