Angelo Coronel é autor de PEC que prevê prazo de oito anos para magistrados integrarem a Corte e estava indeciso

O ministro da Justiça, Flávio Dino, tem conseguido angariar novos apoios nas visitas feitas a senadores às vésperas da votação da sua indicação à vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Um desses votos é o do senador Angelo Coronel (PSD-BA), que havia se declarado indeciso, por não conhecer Dino pessoalmente, mas mudou de ideia após um encontro entre os dois.

— Tive uma boa impressão e devo votar nele — afirmou Coronel ao GLOBO.

O senador é autor de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê mandato de oito anos para os ministros do STF, com a possibilidade de recondução ao cargo. Atualmente, esses magistrados têm mandato vitalício com aposentadoria compulsória aos 75 anos.

Na conversa com o ministro, o senador disse ter a preocupação de que é necessário “se despir da parte política” ao assumir um cargo na Corte:

— Ele (Dino) disse que está preparado e, ao assumir, deixará de ser político- partidário. É evidente que não deve ser algo que aconteça do dia para noite. Acho que a pessoa vai desencarnando paulatinamente — afirmou o senador

Angelo Coronel é um dos 15 senadores da bancada do PSD, a maior do Senado e legenda do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco. Apesar do partido estar na base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com três ministérios na Esplanada (Agricultura, Minas e Energia e Pesca), o grupo no Congresso é heterogêneo.

Foco no PSD

Dino terá uma reunião com a bancada um dia antes da sabatina, inclusive com a presença do presidente do partido, Gilberto Kassab.

Entre os quadros do PSD no Senado está, por exemplo, a senadora Mara Gabrilli (PSD-SP), que fez críticas recentes a Lula sobre uma fala relacionada a pessoas com deficiência. Mara e Dino já conversaram por telefone, mas ela não declarou publicamente o voto.

Em outro movimento buscando os votos da bancada, Dino já ligou para o senador Lucas Barreto (PSD-AP) e deve encontrá-lo na semana que vem. O parlamentar apoiou a tentativa de reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro no ano passado. Barreto segue entre os indecisos, embora já tenha conversado com outros interlocutores de Dino, como o ex-presidente da República José Sarney, de quem é próximo.

Como O GLOBO mostrou, Sarney, de 93 anos, entrou em campo como cabo eleitoral do ministro da Justiça no caminho para a Corte. Dino e Sarney, que já foram rivais políticos no Maranhão, se falaram e o cacique político do MDB deve usar toda sua influência para destravar eventuais resistências ao escolhido por Lula à Corte.

Outros interlocutores também estão atuando em prol de Dino. Integrantes do mundo jurídico já procuraram senadores indecisos, como Cid Gomes (PDT-CE) e Flávio Arns (PSB-PR).

Levantamento feito pelo GLOBO na semana passada, mostrou que Dino tinha o apoio público de 24 senadores, com Angelo Coronel esse número sobe para 25. Para passar, ele precisa de 41 votos, ou seja, a maioria absoluta da Casa.


Fonte: O GLOBO