Kenneth Eugene Smith será submetido na quinta-feira a sistema de execução por inalação de nitrogênio, que provoca a morte por hipóxia (falta de oxigênio); ONU pede suspensão da medida

"Meu corpo está simplesmente perdendo o controle, eu sigo perdendo peso". O relato é de Kenneth Eugene Smith, que aguarda, no corredor da morte do Alabama, a imposição da pena capital pelo assassinato encomendado da mulher de um pastor, em 1988. Depois de sobreviver ao procedimento da injeção letal, em novembro de 2022, ele será submetido, na próxima quinta-feira, a um método inédito no país: a execução por inalação de nitrogênio, que provoca a morte por hipóxia (falta de oxigênio).

Em entrevista à rede britânica BBC, com respostas por escrito trocadas com a ajuda de um intermediário, Smith disse que tem sido submetido a práticas de tortura na prisão.

"Sinto náuseas o tempo todo. Os ataques de pânico acontecem regularmente... Isso é apenas uma pequena parte do que tenho lidado diariamente. Tortura, basicamente", ressaltou ele, que pediu que o estado do Alabama cancelasse a execução "antes que seja tarde demais".

Autoridades locais afirmam que o método, embora nunca tenha sido testado, vai deixar o condenado inconsciente em pouco tempo. No entanto, especialistas da área médica e ativistas de direitos humanos apontam que o método pode gerar convulsões, deixar Smith em estado vegetativo ou mesmo arriscar a vida do conselho espiritual do detento, que deve acompanhá-lo na sala de execução, em caso de eventual vazamento.

— Tenho certeza de que Kenny não tem medo de morrer, ele deixou isso muito claro. Mas acho que ele tem medo de ser ainda mais torturado no processo — disse o conselheiro espiritual, Reverendo Jeff Hood, à BBC.

O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos disse, na última terça-feira, estar "alarmado" pela iminente execução de Smith com um método que "pode constituir tortura".

"Estamos alarmados com iminente execução nos Estados Unidos de Kenneth Eugene Smith, com um método novo e não testado, a hipoxia nitrogenada", disse Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado, em uma coletiva de imprensa em Genebra.

A execução "poderia constituir tortura ou outros tratamentos cruéis e degradantes, segundo o direito internacional", afirmou. Segundo a porta-voz, o protocolo de execução por hipoxia nitrogenada do Alabama não prevê a sedação, enquanto a Associação Veterinária dos Estados Unidos (AVMA, em sua sigla em inglês) recomenda administrar um sedativo aos animais, mesmo os grandes, quando são sacrificados com este método.

A ONU pediu às autoridades do estado do Alabama que suspendessem a execução de Smith, marcada para 25 de janeiro, e está preocupada porque Mississípi e Oklahoma também aprovaram este método de execução.

O Alabama autorizou a hipóxia por nitrogênio em 2018 durante uma escassez de medicamentos usados ​​para aplicar injeções letais, mas o estado ainda não usou o método para executar uma sentença de morte. No método de execução, o detento é forçado com uma máscara a inalar apenas nitrogênio, o que o priva de oxigênio e o mata. O ar inalado pelas pessoas inclui 78% de nitrogênio, mas é inofensivo quando inalado com oxigênio.

John Parker, o outro condenado pelo crime, foi executado em 2010 por injeção letal. Elizabeth foi encontrada morta na casa que dividia com o marido no condado de Colbert, em 18 de março de 1988. Os promotores disseram que Kenneth foi um dos dois homens que receberam US$ 1.000 cada para matar Elizabeth em nome do marido dela, que tinha um caso extraconjugal, estava com uma dívida enorme e queria receber o dinheiro do seguro. 

Um terceiro envolvido, Billy Gray Williams, foi condenado à prisão perpétua por participação no crime. Ele teria apresentado o pastor aos matadores. Quando a investigação chegou a Charles, ele cometeu suicídio.


Fonte: O GLOBO