Acordo para unir os partidos e alianças para as eleições municipais estavam sendo costuradas pelo irmão Ciro

Após travar um embate com o seu irmão, o ex-ministro Ciro Gomes, o senador Cid Gomes (CE) deixará o PDT e se filiará ao PSB no início de fevereiro, o que atrapalha, mais uma vez, os planos políticos do ex-presidenciável. Isto porque a cerimônia que deve ocorrer entre o retorno das férias do Legislativo, no dia 1º, e o feriado de carnaval, no dia 10 seguinte, impossibilitará dois acordos que vinham sendo costurados pelo grupo de Ciro, tendo em vista as eleições municipais: uma possível federação entre as siglas e o apoio do PSB à reeleição do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), que é desafeto de Cid.

Junto ao senador, 43 prefeitos de seu grupo também migrarão para o PSB, o que faz com que a necessidade de uma federação por parte do PSB caia por terra, já que a aliança teria como principal intuito garantir o atingimento da cláusula de barreira. Ainda no horizonte, há a expectativa de que o quadro ganhe outros dez deputados estaduais aliados de Cid que já entraram na Justiça e aguardam a validação de suas cartas de anuência — documento que permitirá o desembarque do PDT, sem a perda de mandato.

Nos bastidores, aliados acreditam que os parlamentares terão o aval judicial, visto que o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, conseguiu a desfiliação e agora está filiado ao PT.

Indecisão entre federais

Os quatro deputados federais que compõem a bancada pedetista, no entanto, ainda não manifestaram intenção de deixar o partido de Ciro.

— Os quatro federais vão continuar no partido, vamos ver como o partido vai tratar a gente este ano. Se vão colocar a gente nas comissões importantes ou nos deixar no ostracismo. Se vão dar as lideranças para os deputados, tem que ver como vão tratar os deputados do Ceará. Eu, por exemplo, estive toda vida na CCJ, agora vão me tirar da comissão? — disse Eduardo Bismarck.

As divergências internas entre Cid e Ciro começaram em 2022, quando os dois irmãos divergiram sobre quem encabeçaria a chapa ao governo do estado. O senador pleiteava o nome da ex-governadora Izolda Cela, mas o ex-ministro insistiu no ex-prefeito Roberto Cláudio, que acabou em terceiro lugar na disputa. Como resultado desta briga inicial, Izolda saiu do partido. No segundo turno, Cid quis declarar apoio ao atual governador Elmano de Freitas, mas Ciro não quis se atrelar ao PT.

Após as eleições, o partido de Lula seguiu sendo motivo de discórdia entre os Ferreira Gomes. Em outubro do ano passado, os dois quase chegaram as vias de fato em uma reunião do PDT no Rio por conta do apoio da legenda ao governo petista no Planalto. Enquanto Ciro quer ser oposição, Cid defende ser base.

Nos últimos dois meses, o grupo de Cid foi sondado por alguns partidos. Inicialmente, o PT era a sigla tida como preferida pelo senador, mas dirigentes e filiados estaduais da legenda afirmaram que não há espaço para acomodar todos os aliados do parlamentar. Além de PSB e PT, o grupo de Cid recebeu convites de Podemos, Solidariedade e PSDB. No caso desses partidos, foi considerado que não havia tanta afinidade ideológica.

Além dos quatro deputados federais que seguirão no PDT, Cid perdeu aliados ao longo do caminho. Sete parlamentares migraram para o PT, enquanto a prefeita de Limoeiro do Norte, Dilmara Amaral, foi recrutada pelo Republicanos. Entre as baixas, a do presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, foi a que causou maior incomodo. Em coletiva, Cid relatou frustração:

— O fato do Evandro já ter se antecipado, ter definido um caminho, frustra em boa parte aquilo que estou dizendo. Espero que seja só ele, caso isolado, e que nós outros decidamos coletivamente.

A guerra interna entre os irmãos tem gerado outros entraves no PDT, como a definição de pré-candidaturas a prefeito. Até o momento, em todas as capitais do país, apenas três nomes foram efetivamente lançados: a deputada federal Duda Salabert, em Belo Horizonte; a deputada estadual Juliana Brizola, em Porto Alegre; e o deputado estadual Goura, em Curitiba.


Fonte: O GLOBO