Se a batalha estivesse vencida, não haveria um novo caso no estádio do Atlético de Madrid. Ou da Udinese
Se restava alguma esperança ou dúvida, os acontecimentos das últimas semanas deixaram evidente que o futebol está muito longe de qualquer avanço real na luta contra o racismo. O mais recente alvo foi o goleiro francês Mike Maignan, do Milan, insultado por torcedores da Udinese.
Teve início então o velho roteiro, o mesmo de sempre, exatamente o que nos trouxe até aqui: o clube dos torcedores racistas sofre uma punição ridícula (normalmente é uma multa, neste caso foi o fechamento dos portões por um jogo), o clube então recorre com os mesmos argumentos (“a nossa coletividade não pode pagar por comportamentos isolados...”) e a história segue.
“Nada mudou”, resumiu Kevin-Prince Boateng, ex-jogador ganês, ele próprio alvo de insultos racistas em janeiro de 2013, quando jogava no mesmo Milan, durante um amistoso contra o Pro Patria, então na quarta divisão da Itália. O caso de Boateng parecia ter chocado o futebol europeu 11 anos atrás. Só parecia. De lá para cá, uma avalanche de slogans vazios, campanhas inúteis e punições frouxas só resultaram — que surpresa — em mais racismo, em mais racistas se sentindo à vontade em estádios de futebol.
Algumas semanas antes, Vinícius Junior havia sido mais uma vez insultado por racistas que torcem para o Atlético de Madrid antes de um clássico na Espanha. Depois de tudo o que aconteceu em 2023 (e 2022 e 2021 e...), os criminosos que perseguem e agridem o craque brasileiro continuam aí, se exibindo semana após semana, ostentando violência, mostrando o quanto levam a sério os slogans, as campanhas e as punições que as autoridades do futebol insistem em apresentar como remédio para problema tão grave.
Certas reações ao enésimo caso isolado contra Vini ajudam a explicar por que essa discussão não avança. Nesta semana, o veterano jornalista espanhol Alfredo Relaño — presidente de honra do diário esportivo As e declarado torcedor do Real Madrid — publicou um artigo no El País para criticar o comportamento de Vinícius em campo.
O próprio jogador reconheceu recentemente que eventualmente “fala demais” e tenta dribles que não deveria tentar, mas a questão aqui é outra — e Relaño fez questão de misturá-las. “É muito difícil olhar para ele como um Tommy Smith 2.0 enquanto se comporta como uma criança”. Ou seja: o craque só pode se posicionar contra a violência que sofre caso se comporte “bem” em campo. É a versão espanhola do “shut up and dribble”, que desatou uma bem-vinda onda de ativismo entre jogadores da NBA.
Em outra passagem de sua coluna, Relaño admite que os insultos racistas contra Vinícius “são intoleráveis”, admite que “é difícil resignar-se”, e então conclui equivocadamente: “Esta batalha [contra o racismo] já está vencida”. E apresenta como argumento a repercussão mundial da violência contra Vini no estádio do Valencia no ano passado.
“Nada mudou”, resumiu Kevin-Prince Boateng, ex-jogador ganês, ele próprio alvo de insultos racistas em janeiro de 2013, quando jogava no mesmo Milan, durante um amistoso contra o Pro Patria, então na quarta divisão da Itália. O caso de Boateng parecia ter chocado o futebol europeu 11 anos atrás. Só parecia. De lá para cá, uma avalanche de slogans vazios, campanhas inúteis e punições frouxas só resultaram — que surpresa — em mais racismo, em mais racistas se sentindo à vontade em estádios de futebol.
Algumas semanas antes, Vinícius Junior havia sido mais uma vez insultado por racistas que torcem para o Atlético de Madrid antes de um clássico na Espanha. Depois de tudo o que aconteceu em 2023 (e 2022 e 2021 e...), os criminosos que perseguem e agridem o craque brasileiro continuam aí, se exibindo semana após semana, ostentando violência, mostrando o quanto levam a sério os slogans, as campanhas e as punições que as autoridades do futebol insistem em apresentar como remédio para problema tão grave.
Certas reações ao enésimo caso isolado contra Vini ajudam a explicar por que essa discussão não avança. Nesta semana, o veterano jornalista espanhol Alfredo Relaño — presidente de honra do diário esportivo As e declarado torcedor do Real Madrid — publicou um artigo no El País para criticar o comportamento de Vinícius em campo.
O próprio jogador reconheceu recentemente que eventualmente “fala demais” e tenta dribles que não deveria tentar, mas a questão aqui é outra — e Relaño fez questão de misturá-las. “É muito difícil olhar para ele como um Tommy Smith 2.0 enquanto se comporta como uma criança”. Ou seja: o craque só pode se posicionar contra a violência que sofre caso se comporte “bem” em campo. É a versão espanhola do “shut up and dribble”, que desatou uma bem-vinda onda de ativismo entre jogadores da NBA.
Em outra passagem de sua coluna, Relaño admite que os insultos racistas contra Vinícius “são intoleráveis”, admite que “é difícil resignar-se”, e então conclui equivocadamente: “Esta batalha [contra o racismo] já está vencida”. E apresenta como argumento a repercussão mundial da violência contra Vini no estádio do Valencia no ano passado.
Não poderia estar mais errado. Se tal batalha estivesse vencida, não haveria um novo caso no estádio do Atlético de Madrid. Ou da Udinese. Até o presidente da Fifa admitiu que chegou a hora de punições esportivas para valer (derrota na partida em curso, eliminação de torneios). Falta muita gente concordar.
Fonte: O GLOBO
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