Guilherme Derrite era alvo de questionamentos por parte da cúpula da corporação
O secretário vinha enfrentando questionamentos por parte da cúpula da corporação, apesar de ter o aval da tropa, dizem aliados. Pessoas próximas ao secretário afirmam que as mudanças já estavam previstas e não foram impulsionadas pela Operação Verão, que já deixou ao menos 32 mortos no litoral de São Paulo.
A carta branca que recebeu do governador evidencia o poder de Derrite, que chama a atenção dentro de um secretariado discreto e que tem em seu horizonte concorrer ao Senado em 2026 ou até mesmo pleitear alguma vaga de vice.
As operações Escudo, em 2023, e agora a Verão, ambas na Baixada Santista, tem sido amplamente exploradas pelo ex-capitão da PM como um aceno para o eleitorado bolsonarista, assim como a aprovação pelo Senado, na última quarta (21), do projeto que acaba com as “saidinhas” de presos, já que ele relatou a matéria na Câmara enquanto deputado.
E apesar das críticas de especialistas de segurança pública e de entidades como a Defensoria Pública em relação a suas operações e medidas, dentro da corporação Derrite tem o respaldo de muitos policiais, especialmente do “baixo clero”, que consideram que ele respalda e protege os agentes mais ativamente do que os titulares anteriores da pasta. Para além das operações que são realizadas cada vez que morre um policial, o secretário costuma usar suas redes sociais para comentar a “neutralização de criminosos” e se posicionar contra as câmeras nos uniformes da polícia, por exemplo.
Entretanto, no comando da polícia há mais resistência a Derrite justamente porque há uma avaliação de que há menos diálogo em sua gestão com a cúpula da polícia. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, uma mudança tão grande no comando da PM no meio de um governo é "extremamente incomum", e criou-se uma "situação de muita insatisfação" entre os coronéis porque mexeu com a hierarquia, tão respeitada pela corporação, já que coronéis com menos tempo no cargo ascenderam em detrimento de outros.
— Trata-se de uma das maiores crises da história de São Paulo envolvendo o secretário de Segurança Pública e a Polícia Militar. O governador aposta alto numa desestabilização da PM e é incerto qual será o resultado disso — afirmou, ao GLOBO, Rafael Alcadipani, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Há ainda críticas em relação às operações deflagradas por Derrite porque elas vão na contramão do que vinha sendo adotado pela corporação nos últimos anos e estimulam o confronto policial — o que contribui tanto para a morte de civis quanto de agentes. Em menos de um ano, a gestão Tarcísio já acumula a morte de dois PMs da Rota em serviço, algo até então raro no estado.
A resistência a Derrite vem desde a época de sua indicação, durante o governo de transição, já que o comando da PM temeu suas atitudes pelo fato de ele ser político. Outro fator que pesa é a patente, já que Derrite era capitão da PM antes de virar deputado federal, o que fez com que coronéis e majores tivessem que responder a quem outrora estava abaixo deles na hierarquia.
Nesse mais de um ano de gestão, as resistência ao secretário no primeiro escalão continuaram. Coronéis reclamam do estilo do bolsonarista, que dizem passar por cima de hierarquias da PM e influenciar politicamente na corporação.
Interlocutores de Tarcísio dizem que o empoderamento do secretário virá junto com mais cobranças por resultados, o que pode elevar a pressão sobre Derrite. No início do ano, em entrevista, Tarcísio admitiu que seu governo deixou a desejar na área da segurança pública. Nas palavras de um aliado próximo do governador, com as trocas na Polícia Militar, Derrite "chama para ele a responsabilidade" e será terá de apresentar resultados mais satisfatórios.
Derrite foi uma das escolhas mais políticas da gestão Tarcísio, pois o então deputado federal pelo PL era apoiador de primeira hora de Jair Bolsonaro. Historicamente, a Secretaria de Segurança Pública era comandada por pessoas ligadas ao Ministério Público — procuradores e promotores foram a grande maioria desde a década de 1990. Em 2018, o então governador João Doria também inovou ao colocar na pasta um general do Exército, João Camilo Pires de Campos.
Fonte: O GLOBO
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