O emedebista, no entanto, não deve conseguir garantir a presença do chefe do Executivo no palanque de seu escolhido

O lançamento, pelo governador do Pará Helder Barbalho (MDB), da pré-candidatura de seu secretário de Cidadania, Igor Normando, para a prefeitura de Belém deve tirar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da campanha na capital do estado durante o primeiro turno. Aliado de primeira hora do Palácio do Planalto, o emedebista não deve conseguir garantir a presença do chefe do Executivo no palanque de seu escolhido, mas articuladores indicam que o petista também não estará ao lado do prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), que pretende buscar a reeleição.

Edmilson tem o apoio do PT, que hoje ocupa três secretarias em sua gestão e a vice-prefeitura. A preocupação do governo federal, no entanto, é que a forte rejeição enfrentada por Edmilson ajude a eleger o nome do bolsonarismo na cidade, o deputado federal Éder Mauro (PL).

O prefeito tem como principal fragilidade a crise do lixo, que durou meses. As pilhas de detritos espalhadas pelas calçadas da capital paraense foram causadas por uma dívida superior a R$ 15 milhões, acumulada pela gestão municipal junto às concessionárias responsáveis pela coleta. Com a normalização, no início do mês, petistas apostam em uma melhora iminente na avaliação.

A expectativa não encontra coro no Palácio Lauro Sodré, que está em desarranjo com Edmilson Rodrigues desde o ano passado por outras falhas na gestão, como o atraso dos salários dos servidores públicos.

Aliança com o PT

No intuito de caminhar ao lado do PT, Helder fez algumas movimentações antes de tomar a iniciativa de lançar um emedebista na corrida eleitoral. Em um primeiro momento, tentou convencer o partido a ter nome próprio. À época, a deputada federal Dilvanda Faro chegou a ser cotada. Uma segunda alternativa cogitada foi a de filiar Igor Normando à sigla de Lula, que fazia parte do quadro do Podemos até sua pré-candidatura ser oficializada.

Apesar das negativas por parte do PT, o governador estará com o presidente amanhã, quando o assunto deve ser discutido pessoalmente. Lula cumprirá agenda em Belém junto com o presidente da França, Emmanuel Macron. Eles visitarão locais que sediarão a COP 30 — conferência da ONU sobre mudanças climáticas — no ano que vem.

Dirigentes petistas reconhecem a importância do governador no jogo eleitoral, mas não veem possibilidade de o partido desembarcar da campanha de Edmilson. Um apoio velado do presidente ou de alguns setores da legenda, contudo, não é descartado. Articuladores também já admitem que Lula não deve cumprir agendas eleitorais em Belém no primeiro turno.

— Virar as costas teria nome: traição. Ajudar a governar e na reta final abandonar porque o pré-candidato está mal avaliado? — questiona o deputado federal petista Airton Faleiro. — Mas, com duas candidaturas do campo de aliança, Lula não deve vir a Belém. Diria que irá torcer por Edmilson, mas não vai se indispor.

Com uma base composta por 15 partidos, de PSDB e PP ao PT, Helder espera mobilizar seus aliados e ter amplo apoio contra o psolista e o bolsonarismo nas eleições municipais da capital. Tal plano já tem alguns entraves sinalizados, a exemplo do Cidadania e do PSD, que manifestaram interesse em ter candidato próprio.

— O partido é base aliada do governo do estado, mas no nível municipal tem outros interesses. Consigo enxergar em Belém esse espaço de centro. Podemos ganhar se soubermos somar — diz o deputado federal Raimundo Santos (PSD).

A indicação do nome de Normando para disputar a prefeitura de Belém também provocou ruídos no MDB. Correligionários do governador dizem ter sido pegos de surpresa. É o caso do deputado estadual Zeca Pirão, que havia se colocado à disposição da sigla e aparecia nas pesquisas como o representante do grupo político.

— Quero entender o motivo. Estou na frente nas pesquisas; são 34 anos lutando pela população mais carente de Belém, não são dois ou três — afirmou ao GLOBO.

O anúncio foi feito no último dia 15, quando Normando se filiou ao MDB. “O estado está voando e Belém ficando para trás, não é possível”, disse Helder, na ocasião.


Fonte: O GLOBO