Desde 18 de março, a presidente peruana é investigada por suposto crime de enriquecimento ilícito e por omitir informações em documentos públicos

O governo do Peru classificou como um "ultraje intolerável" as buscas das forças de segurança do país na casa da presidente Dina Boluarte na madrugada deste sábado. Desde 18 de março, a presidente peruana é investigada por suposto crime de enriquecimento ilícito e por omitir informações em documentos públicos, em um caso que começou com uma denúncia jornalística sobre uma suposta coleção de relógios de luxo Rolex não declarados como parte de seus bens.

O primeiro-ministro do Peru, Gustavo Adrianzén, considerou a operação um "ataque à dignidade" da presidente Dina Boluarte.

— O que aconteceu constitui um ataque intolerável à dignidade da Presidência da República e à nação que representa. Estas ações são desproporcionais e inconstitucionais — disse Adrianzén à emissora de rádio e televisão RPP.

Segundo um documento da polícia, quase 40 agentes participaram da operação "com o objetivo de apreender os relógios Rolex". A ação conjunta do Ministério Público e da polícia foi transmitida pela emissora de televisão local Latina. Nas imagens, agentes cercam a casa localizada no bairro de Surquillo, no leste de Lima, e fazem uma barreira humana para impedir o trânsito de veículos nos arredores. A operação na casa "é para fins de busca e apreensão", disse a polícia.

"Os ministros de Estado expressam nossa solidariedade com a presidente e rejeitamos energicamente essas ações políticas desestabilizadoras, que se encobrem sob disposições judicias questionáveis", acrescentou Adrianzén na rede X (antigo Twitter). Segundo o chefe de Gabinete, no momento da operação, Boluarte estava em sua residência dentro do palácio de governo e "brindará declarações à promotoria assim que for convocada".

A intervenção foi autorizada pelo Supremo Tribunal de Investigações Preparatórias, presidido pelo juiz Juan Carlos Checkley, após o Ministério Público não aceitar que a presidente pedisse o reagendamento de uma diligência marcada para o início da semana em que mostraria os relógios e seus recibos de compra. Segundo Adrianzén, apesar de "estranhamento não terem aceitado" o reagendamento, Boluarte "segue colaborando com a promotoria".

Se for acusada formalmente, a presidente só poderá ser julgada depois de julho de 2026, quando termina o seu mandato, conforme estabelece a Constituição do país. O escândalo, porém, pode levar a um pedido de impeachment no Congresso sob alegação de "incapacidade moral". Para que isso aconteça, os grupos de direita que controlam o Parlamento unicameral — base política da mandatária — devem apoiar grupos minoritários de esquerda, numa aliança difícil de alcançar.

Eclosão do caso

O escândalo eclodiu devido a uma reportagem do programa jornalístico "La Encerrona", exibida em meados de março, que revelou que Boluarte utilizou vários relógios da marca de luxo Rolex em atividades oficiais desde que se tornou vice-presidente do governo do ex-presidente Pedro Castillo e ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social em 2021. O período analisado pelo programa vai até dezembro de 2022, mês em que ela assumiu a Presidência.

Após a reportagem, Boluarte destacou que se trata de um relógio "de antigamente" e que é produto do seu "esforço", já que trabalha desde os 18 anos.

— Entrei no Palácio do Governo com as mãos limpas e sairei com as mãos limpas, como prometi ao povo peruano — declarou Boluarte, de 61 anos, na semana passada.

Em decorrência do escândalo, a Controladoria da República anunciou que iria rever mais uma vez as declarações patrimoniais que Boluarte apresentou nos últimos dois anos em busca de eventual desequilíbrio patrimonial.


Fonte: O GLOBO