Leila é vascaína e preside o Palmeiras. Já Lamacchia é palmeirense e passaria a ser o dono majoritário e controlador do Vasco

Porto Velho, Rondônia - Se havia alguma chance de a 777 Partners vender a SAF do Vasco para alguém que não a Crefisa, essa possibilidade foi consideravelmente reduzida após a decisão judicial, liminar, que afastou os americanos do comando do clube-empresa. Por causa da já famosa, a tal insegurança jurídica. Quem vai comprar o ativo deles sabendo que, amanhã ou depois, um juiz pode suspender o contrato, por mais que esteja sendo cumprido? Isto é fato, não opinião.

Então vamos seguir por aí: José Roberto Lamacchia, dono da Crefisa e do grupo que também inclui a Crefipar Participações e Empreendimentos, volta de Nova York e se reúne de novo com representantes da firma. Os americanos estão irritados com a situação, mas a negociação vinha rolando havia vários meses e nem estava tão distante assim de ser fechada, em termos de valores. A 777 quer por volta de R$ 600 milhões; Lamacchia tem a grana. Eles fecham.

Você já pensou na série de implicações que essa decisão geraria para o futebol brasileiro? Comecemos pelo que está escrito na Lei da SAF, o que pode e não pode. Leila Pereira, presidente do Palmeiras, não pode ter participação na SAF do Vasco. Há proibição na lei. É por isso que ela não participa da negociação — e não participa mesmo. É por isso que Pedrinho, presidente do Vasco, disse que admira Leila, mas a relação dele é com “seu Lamacchia”.

A letra fria da lei é uma coisa, o coração quente do torcedor, outra. Leila é vascaína e preside o Palmeiras. O mandato dela acaba no fim de 2024, e a dirigente já avisou que deverá concorrer à reeleição para mais três anos, portanto até o término de 2027. Já Lamacchia é palmeirense e passaria a ser o dono majoritário e controlador do Vasco, sem prazo para deixar o clube — ele venderia quando quisesse os 70% que hoje negocia. Como é que o público reagiria ao cenário?

Não se trata das futuras partidas entre Palmeiras e Vasco. Isso é o de menos. Dirigentes, treinadores e atletas são profissionais e entrarão em campo para jogar. Mas imagine o que será da política associativa do Palmeiras quando o Vasco arrumar um patrocínio maior do que o alviverde, ou o que será do apoio popular vascaíno quando um craque for contratado pelo coirmão paulista. Qual clube receberá crédito, investimento, atenção midiática, e por aí vai.

Repare que esse não é um problema inédito, muito menos só nosso. A Europa mal sabe o que fazer para encaixar Manchester City e Girona na mesma Liga dos Campeões — ambos propriedade do City Football Group. A Red Bull já deu dores de cabeça. As redes de clubes são realidade. Mas lá é um clubão e um clubinho; um remendo no regulamento e uma olhada para o lado geralmente resolvem. A gente vai ter dois clubes de ponta e de massa com um casal só.

Se a venda do Vasco para a Crefipar pode ser uma boa? Tudo indica que sim. A administração de Leila no Palmeiras é uma das melhores, mais vitoriosas e responsáveis do futebol nacional. Se Lamacchia fizer igual com a Cruz de Malta, o Vasco volta. Um problema grave está no meio adotado para pressionar os americanos. A controversa judicialização é uma bomba que cai sobre todo o mercado do futebol. Outro problema é o conflito de interesses entre clubes. Seria um tanto melhor se marido e mulher estivessem ou lá, ou cá. Mas quem liga para conflitos?


Fonte: O GLOBO