Parte dos aliados do presidente avalia que existe chance do integrante do primeiro escalão não voltar mais para o posto

Porto Velho, Rondônia - A nomeação do ministro Paulo Pimenta para a pasta da Reconstrução do Rio Grande do Sul abrirá um vácuo de poder na comunicação do governo e deve aumentar a pressão para uma troca na área, alvo de críticas nos últimos meses, principalmente em decorrência da queda de popularidade da gestão petista apontada pelas pesquisas. Diante desse cenário, parte dos aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que existe chance de Pimenta não voltar mais para o posto.

Em reunião ministerial em março, Lula se mostrou preocupado e cobrou dos auxiliares mais efetividade na comunicação. Ministros também já expuseram publicamente problemas na área. Além disso, a Secretaria da Comunicação Social (Secom) sofre com divisão interna e vê uma disputa pelo controle dos perfis pessoais de Lula nas redes sociais.

A Secom está sendo comandada interinamente por Laércio Portela, jornalista que já trabalhava na equipe e tem bom trânsito com Lula. Um interlocutor do presidente avalia que, pelo perfil do interino, sem expressão política, a cadeira está reservada para a volta de Pimenta ao fim da missão no Rio Grande do Sul.

Reforma ministerial

O mesmo interlocutor pondera, porém, que após as eleições municipais de outubro Lula deve promover uma reforma ministerial, o que pode levar à escolha de um novo titular para a Comunicação Social.

No círculo mais próximo do presidente, uma mudança mais rápida na Secom só é cogitada se houver um agravamento brusco da queda de popularidade do governo. A gestão de Pimenta é alvo de críticas especialmente no PT, e a pressão pela indicação de um novo ministro efetivo da Secom deve crescer dentro da legenda enquanto houver um vácuo no comando da pasta.

Entre os petistas e auxiliares de Lula, o mais citado para assumir a Secom é o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, que ocupou o cargo no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff e foi um dos coordenadores de comunicação da campanha presidencial de Lula em 2022.

Edinho, porém, tem afirmado a interlocutores que as suas conversas com Lula visam viabilizá-lo para assumir a presidência do PT no lugar de Gleisi Hoffmann, que terá o seu mandato encerrado no ano que vem. O prefeito descarta ainda qualquer possibilidade de deixar o comando de Araraquara antes do fim do mandato, em dezembro. Edinho trabalha para eleger a sua sucessora na única cidade de médio porte governada pelo PT no interior de São Paulo.

Mesmo fora do governo, o prefeito de Araraquara é presença frequente no Palácio do Planalto e atua como conselheiro de Lula, além de ser próximo da primeira-dama Janja da Silva. Na semana passada, Edinho foi a Brasília para integrar a comitiva de Janja que foi ao Rio Grande do Sul para entregar doações. A Comunicação é uma das áreas com maior interferência de Janja no governo.

O prefeito de Araraquara mantém ainda relação próxima com o marqueteiro Sidônio Palmeira, que trabalhou na campanha de 2022 e foi acionado por Lula para auxiliar mais o governo depois que as pesquisas de março apontaram queda de popularidade. O marqueteiro teve reuniões com o presidente e com o próprio Pimenta, em abril.

Um dos problemas citados por integrantes do governo que atrapalha o trabalho da Secom é a relação tensa entre os secretários José Chrispiniano (Imprensa) e Ricardo Stuckert (Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual), próximos a Lula, com a também secretária Brunna Rosa (Análise, Estratégia e Articulação), ligada a Janja. Os problemas entre eles tiveram início ainda na campanha. O trio cuida da estratégia da gestão petista nas redes sociais. Chrispiniano e Stuckert são responsáveis, respectivamente, pelo X (ex-Twitter) e pelo Instagram de Lula, enquanto Brunna coordena as contas governamentais.

De acordo com aliados, Pimenta assume o Ministério da Reconstrução do Rio Grande do Sul com a intenção de atuar com um pé em cada pasta. Embora seja a partir de agora o nome que representa Lula no estado, pretende retornar a Brasília para despachar do gabinete da Secom pelo menos uma vez por semana. Ele manterá a mesma sala no Planalto.

Integrantes da equipe, mesmo de grupos antagônicos, acreditam que Pimenta vai continuar com poder na pasta e participará das principais decisões. Não há expectativa de mudanças de diretrizes. Na prática, a avaliação é que Pimenta será ministro em dose dupla.

Outro indicativo de como Pimenta está empenhado em manter influência sobre a Secom foi a manutenção do seu secretário-executivo, Ricardo Zamora. Amigo do ministro, Zamora é responsável por cuidar da burocracia da Secom.

Ainda segundo aliados, Pimenta teve a prerrogativa de escolher seu interino e o fez mirando em um perfil que não fizesse sombra nele. Portela é descrito como um operador de bastidor, discreto e que não tem envergadura política para ser efetivado como ministro.

Campanha suspensa

Pernambucano como o presidente, Portela, que é próximo do ex-ministro Franklin Martins, foi chamado por Lula para integrar a Secom em maio do ano passado. O jornalista vinha trabalhando na preparação de materiais com ações do governo e no conteúdo e argumento de programas lançados. Desde que chegou, cresceu na Secom se aproximando de Pimenta. Nos primeiros mandatos de Lula, Portela conquistou a confiança do petista ao propor a regionalização da comunicação da Presidência.

Elaborada pela Secom, a recente campanha “Fé no Brasil”, lançada no início do mês para promover a gestão do PT, foi suspensa por Lula. Como informou a colunista Malu Gaspar, do GLOBO, a ideia do governo é concentrar a comunicação do governo apenas no socorro ao Rio Grande do Sul. Peças sobre a atuação do Executivo na crise já estão sendo veiculadas.

Desafios e problemas na pasta
  • Recuo na popularidade - Pesquisas de opinião detectaram nos últimos meses oscilações negativas na percepção dos brasileiros sobre a atuação do governo Lula, o que gera preocupação no Palácio do Planalto. Lula tem criticado, com frequência, as ações de comunicação na Esplanada. A avaliação é que a população não tem sido bem informada sobre as realizações de sua gestão.
  • Crise da dengue - A ministra da Saúde, Nísia Trindade, enfrentou desgaste em meio à escalada dos casos de dengue no país e à crise nos hospitais federais, o que aumentou a pressão por ajustes na comunicação. O entendimento foi o de que a Saúde errou ao gerar expectativa de que o governo teria vacina da dengue para todas as faixas etárias, sendo que não havia doses disponíveis no mercado.
  • Motoristas de aplicativo - O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, também foi cobrado pela reação negativa à proposta do governo para regulamentar a profissão de motoristas de aplicativo, uma promessa de campanha de Lula. O Planalto entendeu que o projeto apresentado ao Congresso foi mal comunicado. Não houve, por exemplo, uma campanha prévia de esclarecimento sobre o texto.
  • Embate com o bolsonarismo - A disputa nas redes sociais com a oposição, principalmente com lideranças bolsonaristas, é um dos principais desafios da área. Como mostrou O GLOBO, a saída de Flávio Dino do Ministério da Justiça para assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal, no início do ano, deixou um vácuo na comunicação do governo nas plataformas.
  • Divisão da Secom - A Secretaria de Comunicação Social tem uma disputa interna pelo controle dos perfis pessoais do presidente Lula nas redes e sofre grande influência da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. No mês passado, o GLOBO mostrou que havia discordância entre uma linha de publicações mais voltada a engajar eleitores de esquerda e outra dedicada a minimizar a polarização.

Fonte: O GLOBO