'Caribe brasileiro' tem atacante e Rafael Zulu como sócios, e conta com 28 imóveis de alto padrão no litoral nordestino. Incorporadora nega que texto em debate no Senado cause impacto no projeto

O jogador Neymar foi às redes sociais rebater críticas e ligação dos empreendimentos em praias do Nordeste com a chamada "PEC da privatização das praias". No centro da polêmica está um projeto que visa transformar um trecho de 100 km do litoral nordestino no “Caribe brasileiro”. A ideia do atacante, em parceria com a incorporadora Due, é erguer neste local — localizado entre os litorais Sul de Pernambuco e Norte de Alagoas — 28 imóveis de alto padrão.

O empreendimento, cujo faturamento pode chegar até R$ 7,5 bilhões, é um dos citados nas críticas de ambientalistas contra o texto em discussão no Senado (leia mais abaixo). Em nota divulgada na manhã desta sexta-feira, a NR Sports reiterou texto veiculado ontem pela incorporadora, destacando que as obras seguem "as mais rigorosas leis de proteção ambiental".

De acordo com o comunicado, não há conexão entre o projeto no Nordeste com a PEC, e que sua aprovação "não refletirá em nada nos imóveis de sua propriedade". A defesa do jogador afirma que "a questão da relevância desse tema cabe ao Congresso Nacional e aos especialistas".

A resposta do atacante ocorre após a repercussão do caso, principalmente quando artistas comentarem sobre o caso nas redes sociais. Um dos vídeos publicados foi da atriz e comunicadora socioambiental Laila Zaid, que classifica Neymar como "um dos apoiadores da ideia". A postagem de Zaid viralizou e foi comentada por muitas pessoas. Entre elas, a também atriz Maeve Jinkings e por Luana Piovani.

Tanto a incorporadora como Neymar afirmam que as acusações são levianas. Nas redes sociais, ele já havia rebatido Piovani , e a dupla começou a trocar farpas. Na nota oficial do jogador, divulgada hoje, diz que a atriz agiu "de forma oportunista, leviana, desproporcional e irresponsável", tentando "associar sua imagem (Neymar) a um tema polêmico", e complementa: "Atacou sem propósito, criando conjecturas e elocubrações, inclusive com ataques pessoais e reputacionais".

O que é a PEC da privatização das praias?

A PEC 03/2022 prevê o fim da propriedade exclusiva da União sobre terrenos de marinha. Ela foi tema de audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na última segunda-feira. Tem sido defendida por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro após parecer pela sua aprovação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), relator da matéria na Casa.

Neymar é um simpatizante declarado de Bolsonaro e pediu votos na última eleição presidencial, vencida pelo presidente Lula.

Os terrenos da Marinha ficam nas praias e nas margens dos rios e lagoas, além dos espaços que contornam as ilhas com águas ligadas aos mares. A proposta pretende repassar a propriedade da União para estados e municípios de forma gratuita, abrindo ainda à possibilidade de repasse a ocupantes privados mediante pagamento.

Entenda o que são terrenos de marinha — Foto: Editoria de Arte

Hoje, os imóveis construídos nesses terrenos têm escritura. Mas os moradores são obrigados a pagar anualmente à União uma taxa de aforamento sobre o valor do terreno. No regime de aforamento, a propriedade do imóvel é compartilhada entre a União e um particular (cidadão ou empresa).

Isso é dividido na proporção de 83% do valor do terreno para o cidadão e 17% para a União. Por conta dessa divisão, ocupantes destes imóveis pagam, atualmente, duas taxas para a União: o foro e o laudêmio.

Ambientalistas afirmam que o texto do novo projeto dá margem para a criação de praias privadas, além de promover riscos para a biodiversidade. Técnicos do governo também afirmam reservadamente que a PEC pode permitir privatização de praias.


Fonte: O GLOBO