Questionado sobre pressão da ala tradicional da igreja nos EUA, Pontífice deliberou sobre o termo 'conservador', enfatizado que há diferença entre levar 'em conta a tradição' e fechar-se 'em uma caixa dogmática'

Porto Velho, Rondônia - O Papa Francisco disse que os seus críticos conservadores têm uma "atitude suicida", durante uma entrevista à emissora americana CBS News, divulgada na quinta-feira. A declaração veio após a jornalista questionar como o Pontífice lida com as críticas vindas de "bispos conservadores" da igreja dos Estados Unidos em relação ao seu papado mais progressista e "seus esforços para rever ensinamentos e tradições". O Papa então disse à jornalista: "Você usou um adjetivo 'conservador'", seguido de uma breve pausa e uma risada contida. E seguiu a reposta, afirmando que "conservador" é aquele que "se apega a algo e não quer ver além disso".

— É uma atitude suicida — argumentou Francisco, enfatizando: — Porque uma coisa é levar em conta a tradição, considerar situações do passado. Outra coisa é estar fechado dentro de uma caixa dogmática.

Pouco mais de uma década à frente da Igreja Católica, o Papa Francisco tem caminhado sobre uma corda bamba para encontrar um equilíbrio entre a proteção da dignidade humana pessoal e os ensinamentos da igreja. Em um de seus movimentos progressistas mais recentes, feito em dezembro passado, foi a autorização da benção para casais do mesmo sexo e em "situações irregulares" para a igreja de forma não litúrgica. Mas meses depois, para apaziguar as divisões internas, emitiu um documento abordando questões caras à tradição católica, como o aborto, a "teoria de gênero" e a barriga de aluguel.

À frente da igreja, o Papa argentino tem enfrentado ataques vindos da ala que o considera uma ruptura com a tradição e resiste ao seu apelo à reforma, incluindo maior abertura e acolhimento dos católicos LGBTQIA+. Também surgiu uma reação internar à sua franqueza sobre a situação dos migrantes e a necessidade de combater as mudanças climáticas. A maior parte desses ataques veio de grupos americanos, desejando um papa que siga a lei da Igreja e apresente a sua doutrina de maneira literal, sem nuances.

Na entrevista à emissora americana, Francisco não teve medo de rebater alguns de seus críticos, descrevendo-os como "atrasados", afirmando que eles teriam substituído a fé pela ideologia. Seus comentários surgem em um momento que os holofotes foram postos sobre uma tendência extremamente conservadora do ponto de vista social na igreja católica americana.

Novas orientações

Nesta sexta-feira, o Vaticano divulgou uma nova atualização sobre as normas para discernir se um fenômeno deverá ou não ser considerado obra do sobrenatural. O documento do Dicastério para a Doutrina da Fé, que entrará em vigor neste domingo, além de apresentar seis conclusões, trouxe novidades: a agilização do pronunciamento em relação à devoção popular, o não envolvimento da autoridade da igreja nessa definição e o envolvimento mais explícito do Dicastério para a Doutrina da Fé, responsável pela aprovação da decisão final do bispo.

De acordo com o Vatican News, as novas normas foram desenvolvidas observando as experiências do passado. Algumas vezes, um bispo local ou os bispos da região declararam a sobrenaturalidade de um fenômeno e, posteriormente, o Santo Ofício publicava uma opinião diferente. Ou então, havia discordância entre um bispo que estava deixando seu posto e aquele que iria sucedê-lo. O Vaticano levou em conta também o tempo que se leva para examinar as evidências e concluir a sobrenaturalidade ou não do fenômeno e a urgência dos fiéis por respostas.

O cardeal prefeito Víctor Manuel Fernández observou a quantidade de vezes que as manifestações “provocaram grande riqueza de frutos espirituais de crescimento na fé, de devoção e de fraternidade e serviço”, mas destacou que alguns eventos presumidamente milagrosos provocaram “problemas muito sérios, com danos aos fiéis”, uma vez que tal fenômeno derivava do lucro, poder, notoriedade ou até mesmo fama.

Dessa forma, segundo as novas normas, a Igreja poderá discernir se nesses eventos milagrosos há “a presença de sinais de uma ação divina”, se não existe nada que “contraste com a fé e os bons costumes”, se será “necessário purificá-los de elementos problemáticos” ou até mesmo se será aconselhável a “valorização pastoral por parte da Autoridade eclesiástica competente”. Estão vetados de declarar um fenômeno como sendo sobrenatural o “bispo diocesano, [...] as Conferências Episcopais, o Discastério”, acrescentando que “o Santo Padre poderá autorizar que se realize um procedimento a respeito".

Caso surja um possível fenômeno que suspeite a sobrenaturalidade, o bispo deverá examinar o caso e submetê-lo ao Dicastério para a aprovação. O documento pede que o bispo abstenha-se de fazer declarações públicas sobre “a autenticidade ou sobrenaturalidade, e que garanta que não haja confusão e que o sensacionalismo não seja promovido.” Se os elementos reunidos forem suficiente, a autoridade deverá estabelecer uma comissão para investigar o evento, que deverá contar com, entre os membros, pelo menos “um teólogo, um canonista e um perito escolhido com base na natureza do fenômeno.”


Fonte: O GLOBO