Siglas aliadas entendem que precisam pressionar o prefeito neste momento de pré-campanha

Porto Velho, Rondônia - Depois de a pesquisa Quaest mostrar o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), em ampla vantagem a três meses e meio da disputa municipal, os partidos que vão compor a aliança se uniram a fim de sugerir a ele um nome consensual para o posto de vice. Paes tem deixado claro nos bastidores que quer uma chapa “puro-sangue” do PSD, mas as siglas aliadas entendem que precisam pressioná-lo neste momento de pré-campanha.

Há uma grande preocupação com o grau de engajamento das militâncias e de quadros dos partidos de esquerda na empreitada eleitoral de Paes caso o vice seja alguém do núcleo duro dele, sobretudo o deputado federal Pedro Paulo. Apesar de a Quaest colocar o prefeito com 51% das intenções de voto, a esquerda avalia que uma chapa apenas do PSD pode levar eleitores progressistas à candidatura de Tarcísio Motta (Psol), que pontuou somente 8% na pesquisa.

— Na terça-feira fizemos uma reunião e ficamos de sugerir um vice em conjunto. Vamos sugerir ao Eduardo. Já falei ao prefeito que a militância precisa se ver nesse processo, que precisa de um vice de esquerda para entrar para valer. A chapa tem que cativar — afirma a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

A petista, no entanto, nega que vá compactuar com dissidências no partido e reforça que o PT tem um “compromisso” com Paes. Na reunião de terça, além da sigla de Lula, participaram dirigentes do PDT, PCdoB, PV e Solidariedade. A cobiça pelo cargo de vice tem como pano de fundo a chance alta de o prefeito, caso reeleito, deixar o mandato no meio em 2026 para concorrer ao governo estadual, o que faria o vice assumir a prefeitura.

Hoje, o principal nome cogitado pelo grupo é o do ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio, André Ceciliano, que tem boa relação com Paes.

O prefeito, no entanto, dificilmente vai ceder à pressão. O favoritismo segue sendo de Pedro Paulo, como Paes já deixou claro ao próprio Lula, e as alternativas de dentro do PSD são os deputados estaduais Eduardo Cavaliere e Guilherme Schleder, além do presidente da Câmara Municipal, Carlo Caiado. A tendência é que Paes passe a decidir a composição da chapa a partir de julho, mas é possível que a definição se dê no limite do prazo final das convenções partidárias, em 5 de agosto.

Favorito comunicado

Paes comunicou a Pedro Paulo que a preferência é dele, e o próprio grupo político do prefeito entende que o deputado tem a prerrogativa. Pesa contra o parlamentar o caso de suposta agressão à ex-mulher, arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que o prejudicou na campanha à prefeitura em 2016 e pode mais uma vez acarretar um desgaste político e familiar para o principal aliado do prefeito na política. Na esquerda, junto com o fato de Pedro ter votado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o episódio é citado como algo crítico na hora de pedir votos.

Por outro lado, pesquisas internas também apontam possíveis perdas de votos caso o vice seja do PT. A Quaest não mediu essa possibilidade, mas o dado que mostra Paes oscilando para baixo quando o apoio de Lula é mencionado expõe, no mínimo, que o presidente não lhe dá novos votos.

Na campanha, o prefeito não deve incluir de forma voluntária o petista em materiais publicitários, mas também não o esconderá: vai assumir a parceria com o presidente quando provocado por adversários, além de evocar os investimentos dele na cidade — que têm sido frequentemente anunciados ao lado do prefeito. Acredita-se, no entorno de Paes, que a campanha municipal é mais desvencilhada do jogo federal do que a eleição de governador, quando os candidatos costumam ter uma simbiose mais nítida.

Outro entendimento no núcleo duro é que o PT está mais interessado em 2026 do que na vice deste ano. Sabe-se que o partido quer emplacar um nome na eventual chapa de Paes a governador, especialmente na eleição ao Senado — haverá duas vagas em disputa, e hoje os três senadores do Rio são do PL. E o PT busca formar palanque para Lula no estado, berço do bolsonarismo.


Fonte: O GLOBO