Assim como o PT, o PL de Jair Bolsonaro também fez uma leitura pragmática ao desistir de entrar com um recurso pela cassação do senador Sergio Moro (União Brasil-PR).
As duas legendas, arquirrivais no Congresso Nacional e nas últimas eleições presidenciais, somaram forças há um ano e meio na Justiça Eleitoral para tentar condenar o ex-juiz federal da Lava-Jato por caixa 2, abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação na campanha de 2022.
Mas Moro acabou absolvido tanto pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), por 5 a 2, quanto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por 7 a 0. Após o revés no TSE, PT e PL informaram que não recorreriam ao Supremo Tribunal Federal (STF) e não insistiriam mais na perda de mandato do parlamentar paranaense.
Foi crucial para essa decisão a postura do clã Bolsonaro, que já tinha sido contra apresentar o recurso no TSE logo depois da absolvição no Paraná. À equipe do blog, o senador Flávio Bolsonaro disse, em abril, que “nós não temos que nos igualar ao PT nessa pauta”.
“A orientação partidária é que o PL não recorra, essa é a orientação do presidente Bolsonaro”, disse o filho “zero um” de Bolsonaro à época, após Moro ser absolvido pelo tribunal paranaense.
Desta vez, a orientação se repetiu. Mas a oposição da família Bolsonaro não foi o único motivo para o PL desistir de tentar cassar Moro.
Havia também na sigla o receio de que uma eventual cassação de Moro poderia ter efeito negativo no eleitorado paranaense, que seria obrigado a fazer uma nova votação para definir quem ficaria com a vaga – e, ressentido, poderia dar o troco no candidato do partido de Bolsonaro.
No Paraná, Bolsonaro derrotou Lula no segundo turno de 2022 com ampla folga – o petista obteve 37,6% dos votos válidos, ante 62,4% do então candidato à reeleição.
Efeito Paulo Martins
Um terceiro fator que pesou na decisão do PL foi uma compreensão, disseminada na cúpula bolsonarista, de que o candidato do partido à vaga de Moro, o ex-deputado federal Paulo Eduardo Martins, é “homem do Ratinho (Jr. do PSD)”, o governador do Paraná, e não de Bolsonaro.
Por essa tese, Martins seria mais “volúvel” e “cooptável” pela base do presidente Lula, diferentemente de Moro, histórico adversário dos petistas.
“O Moro é nosso, sempre vai ser de direita, mesmo brigando com Bolsonaro. Ele nunca vai se aliar ao Lula. Já o Paulo Martins não é tão firme. Ele é leal ao Ratinho, não ao Bolsonaro”, diz um interlocutor próximo de Bolsonaro à equipe da coluna.
Portanto, na leitura pragmática de bolsonaristas, melhor ficar com Moro do que arriscar uma vitória do “imprevisível” Paulo Martins.
Já no caso dos petistas, o medo era outro: o de a cassação de Moro abrir as portas do Senado para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou algum bolsonarista radical que pudesse dar mais dor de cabeça para o Palácio do Planalto.
“O risco Michelle Bolsonaro salvou o Moro”, ironiza esse mesmo aliado de Bolsonaro.
Fonte: O GLOBO
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