Ambientalista vinha sendo ameaçado por fazendeiros e grileiros por impedir queimadas na região

Porto Velho, Rondônia - O ambientalista Sidinei de Oliveira Silva, conhecido como Neném ou Nenê, foi executado com dois tiros de calibre 12, na manhã de sábado, em Tocantins. Nenê atuava no programa do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) e era presidente da Associação de Brigadistas da Brigada Federal (Brif) Nordeste do Ibama.

O brigadista residia na Aldeia Imotxi II, na Ilha do Bananal, onde foi assassinado na porta de casa. Segundo o Ibama, Nenê tinha vasta experiência no manejo integrado do fogo e operava equipamentos usados nos combates aos incêndios, como o Sling Dragon, usado em queimas prescritas a partir de helicópteros.

"Os brigadistas do Prevfogo, assim como toda a equipe Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais e do Ibama prestam agradecimento à família e aos amigos pelos anos de trabalho e dedicação do brigadista em defesa da natureza", afirmou o Ibama, em nota.

O ambientalista Nenê foi assassinado neste sábado, em Tocantins — Foto: Reprodução

O GLOBO apurou que Nenê vinha sendo ameaçado por fazendeiros e grileiros por impedir queimadas e invasões em terras indígenas situadas na Ilha do Bananal.

O Superintendente do Ibama do Tocantins, Leandro Milhomem Costa, afirmou ao GLOBO que Nenê era um brigadista "experiente e qualificado no manejo do fogo preventivo".

— Ele já foi contratado em outros anos pelo Prevfogo do Ibama Tocantins e estava selecionado para atuar junto à Brigada Nordeste da Ilha do Bananal em 2024. Não temos informações sobre a motivação do crime — diz Costa.

A perícia esteve no local do crime e o corpo da vítima foi levado para o Instituto Médico Legal (IML). O GLOBO procurou a polícia de Formoso de Araguaia, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

Um dos principais conhecedores da região, o ambientalista deu apoio logístico à Funai quando, em um sobrevoo, fez o avistamento do povo indígena isolado Avá-Canoeiro, antes dado como extinto em uma área da Ilha do Bananal, conhecida como a "Mata do Mamão". Nenê era descendente do Povo Karajá, habitantes seculares das margens do rio Araguaia em Goiás, Tocantins e Mato Grosso.

O ambientalista chegou a prestar depoimento no Ministério Público (MP) sobre invasões de pecuaristas em terras indígenas localizadas na ilha. O MP foi procurado pelo GLOBO, mas não respondeu aos questionamentos até a publicação da reportagem.

À Agência Brasil, o diretor da Associação de Servidores do Ibama, Wallace Lopes, afirmou que Nenê "denunciava sempre crimes ambientais" e "tinha muitas inimizades" no meio. O ambientalista ponta que, em 2007, centenas de milhares de cabeças de gado foram retiradas da Ilha do Bananal, mas retornaram após um acordo com o MP.

— Hoje a gente tem uma ilha do Bananal praticamente toda cercada por pastos, por cercas, coisas que não tinham poucos anos atrás. Então é uma região que tem sim um conflito social ocorrendo nesse momento —disse Lopes à Rádio Agência.

A deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, prestou solidariedade à família de Nenê e ressaltou que "preservar os biomas é crucial para a sobrevivência humana". "Que os culpados por esse crime bárbaro sejam encontrados e presos o mais rápido possível", disse a parlamentar.

"Me solidarizo com amigos e familiares do ambientalista Sidinei de Oliveira Silva, assassinado a sangue frio em frente a sua casa. Nenê, como era conhecido, trabalhava para o Ibama combatendo incêndios no Tocantins e os relatos na imprensa são de que ele vinha sendo ameaçado por fazendeiros e grileiros por impedir queimadas na região. As pessoas precisam entender que não se trata de uma questão nós contra eles, preservar os biomas é crucial para a sobrevivência humana. Que os culpados por esse crime bárbaro sejam encontrados e presos o mais rápido possível!", afirmou a petista.


Fonte: O GLOBO