Partido quer apostar em ex-presidenciável em resposta a exonerações de indicados da sigla pelo prefeito e candidato à reeleição

Porto Velho, Rondônia - Após uma ruptura ruidosa com Eduardo Paes (PSD), a cúpula estadual do Republicanos trabalha com a possibilidade de retaliar o prefeito do Rio e candidato à reeleição em outubro lançando para concorrer à prefeitura Cabo Daciolo, ex-deputado federal que disputou a presidência em 2018 pelo extinto partido Patriota.

Segundo fontes do partido, a revanche foi ideia do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha – que, apesar de oficialmente filiado ao PRD, também dá as cartas na legenda. Daciolo se filiou no início de abril, segundo os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Lideranças nacionais da sigla afirmam sob reserva que o martelo sobre uma candidatura própria será batido mais adiante, mas não houve veto à investida nesse primeiro momento. Já o prefeito de Belford Roxo (RJ) e presidente estadual do Republicanos, Waguinho, alinhado a Lula no cenário nacional, ainda tenta uma repactuação com o prefeito do Rio, também aliado do presidente.

Conforme publicamos no blog, Paes desfez formalmente a aliança com a legenda do ex-prefeito Marcelo Crivella na terça-feira (4) após demitir da gestão municipal três indicados de Waguinho e de Eduardo Cunha.

O estopim para o rompimento foi a pressão de Cunha para que a prefeitura contratasse uma ONG ligada ao ex-deputado após a entidade ter sido vetada pela Secretaria de Integridade da gestão Paes.

Outro fator foi o o fato da entidade ser destinatária de emendas no valor de R$ 1,5 milhão reservadas por Chiquinho Brazão, apontado como um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco, antes de ser preso em março. Os irmãos Brazão fazem parte do grupo político de Cunha e Waguinho.

Também pesou a exoneração de indicados de Chiquinho, ex-secretário de Ação Comunitária de Paes, da máquina municipal. O prefeito temia que o caso da ONG respingasse em sua campanha e optou por abrir mão do partido, que tem uma bancada de quatro vereadores, na sua coalizão em outubro.

A decisão foi duramente criticada pelo Republicanos, que falou em quebra de acordos. Crivella, hoje deputado federal, disse ao GLOBO que a ruptura era “irreversível”.

Se confirmada, a candidatura de Daciolo será a primeira do partido ao comando da cidade do Rio sem vinculação direta com a Igreja Universal do Reino de Deus, denominação historicamente ligada ao Republicanos.

Daciolo, porém, é evangélico – assim como Cunha e Waguinho – e deve explorar pautas conservadoras alinhadas a este segmento do eleitorado.

Jejum no monte

Na eleição de 2018, quando disputou a presidência pelo Patriota e terminou em sexto lugar, à frente de políticos como Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB), ele ganhou projeção nacional ao jejuar e orar em um monte na Zona Oeste do Rio durante a campanha eleitoral e ao ler um trecho da Bíblia em um debate presidencial.

Opositores de Paes, inclusive no PL de Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem, apostam que a fragmentação de candidaturas no pleito municipal pode evitar uma vitória do prefeito já no primeiro turno e forçar uma disputa contra um quadro da direita na segunda rodada.

O Republicanos é o décimo partido de Daciolo, eleito pela primeira vez para um cargo eletivo em 2014 pelo PSOL. Ele ganhou notoriedade no estado após ser preso por liderar um movimento grevista no Corpo de Bombeiros do Rio que contou com a simpatia de parte da população em 2012.

Acabou expulso dois meses após o início do mandato, em 2015, sob a acusação de desrespeitar o estatuto da legenda ao protocolar uma proposta de emenda à Constituição que alteraria o texto da Carta que diz “todo poder emana do povo” para “todo poder emana de Deus”.

Sua última candidatura se deu em 2022, quando Daciolo disputou o Senado Federal pelo PDT e terminou em sexto lugar, recebendo 285 mil votos. O pleito foi vencido por Romário (PL), que se reelegeu. Na ocasião, o ex-bombeiro apoiou Ciro Gomes no primeiro turno e pregou o voto nulo no segundo – o que quase lhe rendeu uma expulsão do partido, que aderiu a Lula.


Fonte: O GLOBO