Governador do Rio aproveitou ato com ex-presidente e Alexandre Ramagem, pré-candidato a prefeito pelo PL, para exaltar bandeiras bolsonaristas

Porto Velho, Rondônia - Com a popularidade em baixa e de olho nas eleições de 2026, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), aproveitou um ato de seu partido com a presença de Jair Bolsonaro e do pré-candidato da legenda à Prefeitura do Rio, Alexandre Ramagem, para tentar se reconciliar com a militância bolsonarista e contornar os parcos índices de aprovação na capital.

No comício pré-eleitoral realizado na Tijuca, Zona Norte do Rio, Castro foi pouco aplaudido ao ser anunciado no trio elétrico – e vaias puderam ser ouvidas. Segundo uma pesquisa conduzida pelo Datafolha e divulgada no início do mês, apenas um em cada cinco apoiadores do PL na capital fluminense aprova a gestão do governador.

Ainda assim, ele foi anunciado no microfone como “o governador mais alinhado com Bolsonaro” e “como homem do Bolsonaro”. No microfone, exaltou o lema bolsonarista “Deus, pátria, família e liberdade”, atacou as chamadas "pautas de costumes" e fez referência aos julgamentos no Supremo Tribunal Federal (STF) que debatem a descriminalização da maconha e do aborto.

“Família: aqui no meu estado não tem ideologia de gênero. Aqui se [alguém] estiver com droga a gente vai prender. E aqui não tem esse negócio de achar que vai fazer aborto, vai chegar na delegacia e fazer simplesmente um BOzinho [boletim de ocorrência] e vai fazer, não. Aqui nós defendemos a vida, Bolsonaro!”, disse ele.

O governador do Rio também disse que será liderado pelo ex-presidente “até o último dia” de seu mandato e garantiu “limpar o Rio de Janeiro desses marginais”, em referência ao crime organizado.

De acordo com a última pesquisa Datafolha, 43% dos apoiadores do PL consideram o governo de Cláudio Castro regular e 34%, ruim ou péssimo. Apenas 20% julgam que sua administração é ótima ou boa. Entre o universo total de moradores da capital, 46% vê a gestão como ruim ou péssima, 36% regular e apenas 14% positiva.

Os números chamam ainda mais atenção se levada em conta a vitória de Castro no primeiro turno das eleições de 2022 com quase 60% dos votos válidos – e soam como um alerta para o chefe do Executivo estadual, que deve se lançar ao Senado Federal em 2026 com o apoio do PL fluminense. No segundo mandato, ele não pode mais se reeleger.

Em 2022, ele concorreu à reeleição buscando fugir da polarização entre Lula e Bolsonaro e fazendo acenos ao centro. Agora, mesmo constrangido com as vaias que recebeu no início do ato com Bolsonaro, endureceu o discurso. Aparentemente, funcionou.

“Cláudio Castro é totalmente alinhado ideologicamente com o Bolsonaro. É um cara de direita, católico fervoroso contra o aborto”, disse à equipe da coluna o presidente do PL no Rio, Bruno Bonetti.

Com suas críticas à decisão do Supremo de descriminalizar o porte de até 40 gramas de maconha para uso pessoal, como ao falar contra o aborto, Cláudio conseguiu converter as vaias em aplausos efusivos. Jair Bolsonaro cumprimentou o aliado antes e após o discurso com discrição.

Aliados próximos do ex-presidente afirmam que Castro tem dificuldades em se expor na mídia e “vender” para o público seu alinhamento com Bolsonaro e a militância, que exigem uma “fidelidade canina” e já colocaram até mesmo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sob pressão.

“Como governador do estado ele precisa dialogar com o PT e com o Lula”, admitiu, sob reserva, um aliado de Castro.

Nos bastidores, interlocutores do PL avaliaram o discurso do governador fluminense como a “melhor fala” do comício de quinta-feira e até mais enfática do que o de Alexandre Ramagem, protagonista natural do ato junto de Bolsonaro.

No ato, Castro até exaltou a figura de Ramagem, o candidato de Bolsonaro para a prefeitura do Rio, e pediu que apoiadores “estudassem a vida” do pré-candidato, descrito como “sério” e “homem de família”.

Antes de o ex-presidente escolher o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Castro tentou articular o apoio do PL ao deputado Doutor Luizinho (PP-RJ), e ao senador Carlos Portinho (PL-RJ), mas as costuras não foram adiante.

O governador, também já manifestou nos bastidores reservas à capacidade do deputado de fazer frente ao prefeito Eduardo Paes (PSD), aprovado por 46% da população carioca segundo o Datafolha.

Ainda assim, depois da escolha, Castro passou a defender a candidatura de Ramagem.

Além de impopular, Castro também enfrenta problemas com a Justiça. Em maio, o chefe do Executivo escapou de um processo que pedia sua cassação no Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) por abuso de poder econômico e político nas eleições de 2022.

Como publicamos no blog na última sexta-feira, o discurso de Bolsonaro no evento foi marcado pela defesa de seu legado e por um desagravo tímido a Ramagem, investigado pela Polícia Federal no inquérito da Abin paralela.

O ex-presidente destacou que o aliado “já começa a pagar um preço alto sua ousadia de querer, pensar, sonhar em administrar uma cidade com respeito, honradez e orgulho”, em referência à apuração da PF, mas nada falou sobre as pendências de Cláudio Castro na Justiça.

Críticas a Lula

Desde a posse de Lula, Castro tem buscado se equilibrar entre críticas pontuais ao governo federal e aparições públicas em agendas com o presidente. O político do PL tenta negociar junto à União mais uma revisão do regime de recuperação fiscal aderido pelo Rio em 2022.

O tom tem mudado nas últimas semanas. O governador retomou no comício bolsonaristas críticas ao governo Lula pela condenação do Itamaraty à abordagem da Polícia Militar fluminense a quatro filhos de diplomatas do Canadá, Gabão e Burkina Faso em Ipanema, Zona Sul do Rio, no último dia 3.

O fato dos jovens serem negros e imagens de câmeras de segurança não indicarem motivo plausível para a ação policial suscitou críticas sobre uma suposta conduta racista.

“No nosso estado, Bolsonaro, polícia é polícia e ladrão é ladrão. Infelizmente hoje quando a polícia comete um erro o Itamaraty condena a polícia antes de perguntar o que houve. Mas quando é bandido ele quer que tenha o devido processo legal”, disparou.

“Quando a arma está entrando pelo Paraguai, para puxar o saco do Mercosul, eles não criticam esses países que estão deixando armas e drogas entrarem no Brasil e no Rio de Janeiro”, completou.

Castro se filiou ao PL em maio de 2021, seis meses antes de Jair Bolsonaro, à época sem partido e a procura de uma legenda para chamar de sua na disputa pela reeleição em 2022. Com o embarque do então presidente na sigla, trabalhou para se aproximar do então presidente.

O governador do Rio fazia parte do nanico PSC, partido pelo qual disputou como vice-governador na chapa de Wilson Witzel, ex-juiz federal e correligionário. Azarões na disputa, acabaram disparando na reta final do primeiro turno e derrotaram Eduardo Paes, na época no DEM, no segundo.


Fonte: O GLOBO