Relatório mostra que Ramagem pode ter gravado uma reunião com o ex-presidente e a advogada do filho, em que se discutia a anulação das investigações de “rachadinha” contra Flávio
Porto Velho, RO - O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi às redes sociais para tentar se descolar de acusações de que o governo do pai dele, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tenha interferido na Polícia Federal para beneficiá-lo na investigação que o acusa de praticar “rachadinhas”.
O vídeo foi publicado pelo senador na quinta-feira 11, horas após a divulgação de que Alexandre Ramagem, à época diretor da Agência Brasileira de Inteligência, teria gravado uma reunião com o ex-capitão.
No encontro teria sido discutido o uso da Abin, de forma ilegal, para livrar Flávio das acusações. Os participantes, segundo a PF, foram o então presidente; seu ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno; e a advogada de Flávio.
O grupo teria discutido quais medidas poderiam ser adotadas para anular a investigação das “rachadinhas” – que teriam acontecido quando o hoje senador era deputado estadual no Rio de Janeiro. Uma das sugestões seria a de “desmoralizar e afastar os auditores da Receita Federal” que acessaram os dados fiscais de Flávio e encontraram inconsistências.
A informação consta em material elaborado pela Polícia Federal em meio à quarta etapa da Operação Última Milha, que investiga o uso da agência de inteligência pelo bolsonarismo, em esquema que ficou conhecido como “Abin Paralela”.
Flávio Bolsonaro negou qualquer irregularidade e insinuou que era vítima de “uma força-tarefa do crime dentro da Receita”.
“Isso tudo não tem absolutamente nada a ver com a minha defesa jurídica na época, que diz respeito a questões processuais, nada de mérito, e que foram reconhecidas pela Justiça, e o processo acabou. Portanto, nada a ver com qualquer coisa da Abin. Agora, eu não posso correr atrás dos meus direitos de vítima que eu fui, de criminosos de dentro da Receita, e isso é usado contra mim? Faça-me o favor, isso eu não vou aceitar”, afirmou.
O chefe do Escritório da Corregedoria da Receita Federal do Rio de Janeiro, Christiano Paes Leme Botelho, responsável pela elaboração do relatório que fundamentou a investigação contra o senador, foi exonerado em dezembro de 2020. Segundo as investigações da PF, ele seria um dos alvos monitorados pela Abin Paralela.
Botelho era apontado como um nome influente na Receita Federal, com mais de uma década de carreira, tendo sobrevivido a diversos governos.
À época da exoneração, fontes afirmaram que ele havia pedido para deixar o cargo devido à pressão que sofreu por advogados que representam Flávio Bolsonaro.
A conversa gravada, na qual se discutia anular as acusações contra o senador, aconteceu em agosto de 2020, quatro meses antes da exoneração de Botelho.
Em mensagens interceptadas pela Polícia Federal, integrantes da Abin Paralela discutiam achar “dívidas tributárias” e “ver as redes sociais de esposa” dos servidores da Receita Federal.
Na ocasião, Ramagem teria dito que “seria necessário a instauração de procedimento administrativo” contra os auditores da Receita “com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns dos auditores de seus respectivos cargos”.
Os agentes da PF identificaram o uso da Abin em ações clandestinas classificadas como “urgentes” contra três auditores da Receita em novembro de 2020.
Mesmo após a divulgação do relatório da PF, Flávio Bolsonaro continua negando as supostas interferências.
“Simplesmente não existia nenhuma relação minha com a Abin. Minha defesa atacava questões processuais, portanto, nenhuma utilidade que a Abin pudesse ter. A divulgação desse tipo de documento, às vésperas das eleições, apenas tem o objetivo de prejudicar a candidatura do Delegado Ramagem à prefeitura do Rio de Janeiro”, disse o senador.
Ramagem é pré-candidato a prefeito da capital fluminense, com apoio de Jair Bolsonaro. Aliados do ex-presidente questionam se ele continuará com o apoio.
Fonte: Carta Capital
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