Silvio Almeida durante audiência na Câmara dos Deputados — Foto: Brenno Carvalho/O Globo

Porto Velho, Rondônia - A direção-geral da Polícia Federal decidiu não divulgar o nome da delegada que vai investigar as denúncias de assédio contra o ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida, demitido na semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma das vítimas de abuso teria sido a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que na semana passada confirmou ter sido vítima de abuso em uma reunião com o presidente da República.

A investigação, que começa nesta semana, deve tomar depoimentos de mulheres que afirmam ter sofrido alguma forma de abuso por parte do ex-ministro. De acordo com o portal UOL, foram feitos pelo menos dez registros contra Almeida no Ministério dos Direitos Humanos, tratando de assédio moral. Também houve denúncias ao movimento Me Too, que acolhe vítimas de assédio sexual.

De acordo com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, foi escolhida uma mulher para dirigir o inquérito. "Mas vamos preservá-la", afirmou o diretor. O motivo, segundo ele, é "evitar o linchamento".

Rodrigues se refere à onda de ataques que ocorreu nas últimas semanas contra os delegados Fábio Shor e Raphael Astini, que dirigem os inquéritos das milícias digitais e da tentativa de golpe de Estado, respectivamente.

Nos dois casos, os delegados foram alvo de uma onda de intimidação pelas redes sociais, em especial o X, com a divulgação de seus dados pessoais e informações sobre seus familiares, inclusive crianças, além de ameaças e coação.

Nessa campanha, militantes bolsonaristas como o senador Marcos do Val (Podemos-ES) e os blogueiros Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio fizeram memes e postagens sugerindo que a realização do G20 no Brasil estaria em risco por negligência da PF. Houve também acusações ede que um dos delegados tinha feito “milhares de crianças vítimas” e ainda postagens no estilo "procura-se", questionando se Shor deveria estar “vivo ou morto”.

Essa sequência de ataques foi inclusive a base da ordem inicial de bloqueio de contas de usuários do X que foi descumprida pela plataforma – e que depois acabou resultando na suspensão de toda a rede. O perfil de Marcos Do Val e páginas ligadas a Allan dos Santos estavam entre os nove que deveriam ter sido derrubados por ordem de Moraes.

Na decisão, Moraes citou gestos concretos de intimidação, como um macaco de pelúcia azul colocado no limpador do vidro traseiro do carro pessoal de Shor — "claro recado de que seus autores conhecem o veículo e o local de residência do servidor, como mais uma forma de intimidar sua atuação nas apurações de organização criminosa no STF”, segundo escreveu Alexandre de Moraes.

No caso de Silvio Almeida, o inquérito deve correr em sigilo para preservar a identidade das vítimas.

Além da investigação da PF, as denúncias de assédio no Ministério dos Direitos Humanos estão sendo apuradas também pela Comissão de Ética da Presidência da República.

Conforme publicamos na semana passada, os relatos do assédio sofrido por Anielle já eram de conhecimento da primeira-dama, Janja, e de vários outros ministros palacianos há semanas, mas não há notícia de que providências formais tenham sido tomadas até o vazamento das denúncias em uma reportagem publicada pelo colunista Guilherme Amado no portal Metrópoles.

Segundo apurou a equipe do blog, a ministra da Igualdade Racial teria tratado sobre o tema com os ministros da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinicius Carvalho. Até agora, porém, não tinha sido tomada nenhuma providência a respeito.

Após a demissão de Silvio Almeida, o Ministério dos Direitos Humanos será assumido por Macaé Evaristo, que é deputada estadual pelo PT em Minas Gerais e professora. Prima da escritora Conceição Evaristo, foi também secretária de Educação tanto na gestão estadual quanto na capital, Belo Horizonte, onde também se elegeu vereadora.


Fonte: O GLOBO