Terça-feira, 01 de abril de 2025

Polícia Federal deflagra operação para investigar ataques contra indígenas no Oeste do Paraná

Duas crianças, incluindo uma de 4 anos, e dois homens adultos ficaram feridos no ataque ocorrido em 3 de janeiro; um dos homens adultos ficou paraplégico devido à gravidade das lesões


Indígenas protestam por demarcação de terra na região de Guaíra. Foto: CIMI

Porto Velho, RO - A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta quinta-feira 27, a operação “Mbarete” para investigar os conflitos fundiários entre ruralistas e indígenas na região de Guaíra, no Oeste do Paraná, após homens encapuzados invadirem a aldeia indígena Yvy Okaju, da etnia Avá-Guarani, e dispararem contra indígenas em 3 de janeiro.

À época, duas crianças, incluindo uma de 4 anos, e dois adultos foram atingidos pelos disparos de grosso calibre. Um dos homens adultos ficou paraplégico devido à gravidade das lesões, enquanto foi atingido no maxilar.

De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a suspeita era de que ao menos três pontos da aldeia Yvy Okaju estivessem sendo monitorados pelos agressores, o que possibilitou a emboscada armada.

As investigações, realizadas pela PF com o apoio da Polícia Civil e da Força Nacional, “apontaram a participação de alguns moradores da região, os quais foram alvos de cumprimento de Busca”. Ao todo foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão.

O histórico dos ataques

O episódio foi o quarto ataque armado realizado em menos de uma semana entre os meses de dezembro e janeiro. O primeiro ocorreu em 29 de dezembro, quando invasores atearam fogo na vegetação e em uma das casas da aldeia. Em meio a fogos de artifício lançados contra os indígenas, também ocorreram disparos de arma de fogo. Nos dias 30 e 31, novos incêndios e tiros, que atingiram uma das mulheres na aldeia.

Os ataques entre o final de dezembro e começo de janeiro não foram ao acaso. Criminosos aproveitaram o recesso das autoridades para agir com menor risco de repressão.

Em fevereiro, novos ataques ocorreram e chegaram a ser transmitidos ao vivo pelos indígenas. No vídeo não é possível visualizar os agressores pela baixa luminosidade, apenas reflexos das lanternas de veículos, mas é possível ouvir uma gritaria seguida de disparos distantes espaçados.

A Força Nacional foi acionada para interromper o confronto, mas segundo fontes ouvidas pelo Cimi, os policiais demoraram a chegar no local e os disparos não cessaram mesmo após a presença dos oficiais.

O ataque resultou em outros 4 indígenas feridos, , três mulheres e um homem, foram socorridos pela manhã com a chegada de um motorista da Secretaria Especial de Saúde Indígena, a Sesai.

Lentidão na demarcação e barreiras na justiça

A área, que engloba a Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, que circunscreve os municípios de Guaíra, Terra Roxa e Altônia, registra um histórico de disputa fundiária. Além da pressão de proprietários rurais, soma-se a conta a pressão da especulação imobiliária, uma vez que parte do território está no limite do centro urbano.

No total, são 24 mil hectares de área, sobrepostos por 165 fazendas e áreas de interesse comercial. Desde 2018, a Funai delimitou e identificou a TI, mas os trabalhos para a demarcação definitiva ficaram parados durante toda a gestão Bolsonaro.

Em 2023, o governo Lula (PT) deu andamento aos processos demarcatórios, mas uma ação movida pelas prefeituras de Guaíra e Terra Roxa e outra de autoria da Federação da Agricultura do Estado do Paraná conseguiram suspender novamente o processo.

Fonte: Carta Capital

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